Publicada em 18 de fevereiro de 2003
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
A propaganda é sedutora: uma escultural Joana Prado de biquíni exibe um
massageador elétrico e garante que, com pouco esforço, todos podem dizer
adeus às gordurinhas localizadas. Ela não sabe, mas se usasse mesmo o
aparelho durante um dia inteiro o máximo que conseguiria seria perder 30
quilocalorias. É menos do que meia maçã ou uma fatia de pão integral.
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que a
ginástica passiva tem resultados bem mais modestos que os prometidos pelos
canais de televenda. Mas o estudo indica que, ao menos, essas engenhocas não
fazem mal à saúde.
“Constatamos que 15 minutos de eletroestimulação equivale a menos que 200
abdominais. E é desagradável ficar tomando choquinhos”, afirma a
pesquisadora Gerseli Angeli, do Centro de Medicina da Atividade Física e do
Esporte, uma unidade da Unifesp. O estudo foi feito com de dez homens e dez
mulheres, entre 18 e 40 anos, que se submeteram a testes com os
massageadores elétricos e depois participaram de sessões de abdominais.
Como os massageadores dão pequenos choques, o máximo que conseguem fazer é
estimular a musculatura. Se usados com persistência, de fato, tonificam os
músculos. Mas longe de deixar as pessoas com corpo de Joana Prado. Eles
também não têm o poder de eliminar a celulite. “Um gordinho vai ficar com os
músculos tonificados, mas continuará gordinho”, diz o coordenador do centro,
Turíbio Leite de Barros Neto. Segundo ele, o estudo não condena o uso desses
aparelhos. “Ele pode ser indicado para pessoas sedentárias, que nunca se
exercitam, os preguiçosos. Serve como uma preparação da musculatura.”
Atividades – Turíbio explica que é um erro achar que os massageadores farão
a malhação sozinha. “Não adianta só usar o aparelho. É preciso que as
pessoas façam 30 minutos de atividade aeróbica diária como nadar, caminhar,
pedalar e até dançar.” E, diz o coordenador, depois de três meses já é
melhor procurar uma academia, se o interesse é ficar com o corpo “sarado”.
Em sessões de fisioterapia, aparelhos similares são usados com o objetivo de
reeducar a contração voluntária dos músculos e começar a exercitá-los. São
recomendados para pacientes de pós-operatório ou que ficam muito tempo na
cama.
O fabricante de dois aparelhos, o Elysée Belt e o AB Toner, Mário Kohn,
reconhece que a propaganda da “feiticeira” Joana Prado está errada. Promete
para o fim do mês uma nova em que não inclua a eliminação de gordura.
Segundo ele, o antigo produto, antes fabricado nos Estados Unidos, garantia
esse resultado. “Mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não
tinha base nem estudos para proibir a venda desses aparelhos.”
Desde setembro, Kohn tenta obter o registro para seus aparelhos e estima ter
acumulado R$ 5 milhões em prejuízos. Quer agora, com o laudo da Unifesp,
regularizar a situação. O novo estudo elimina a restrição, baseada na
suspeita de fazer mal à saúde, para a venda desses massageadores, que custam
mais de R$ 200. “Eles não alteram a freqüência nem o ritmo cardíaco. Só é
preciso tomar cuidado com a procedência deles”, diz a pesquisadora Gerseli.