Publicada em 25 de agosto de 1999
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Eduardo Nunomura
Quem descobriu o Brasil? Pedro Álvares Cabral não é a resposta certa na cidade pernambucana de Cabo de Santo Agostinho. Às vésperas da comemoração oficial dos 500 anos do Descobrimento, Cabo de Santo Agostinho bate pé pela primazia de ser o local onde o primeiro europeu pisou no Brasil. Não se trata de um português, mas do espanhol Vicente Yañez Pinzón, em 26 de janeiro de 1500, três meses antes de Cabral. Pinzón é um personagem célebre, mas por causa de outro descobrimento, o da América. Ele era o capitão da Niña, uma das três caravelas de Cristóvão Colombo, em 1492. Viajou para o sul mais tarde e foi o primeiro europeu a encontrar a foz do Rio Amazonas. Até lavrou um documento tomando posse da nova terra, que só não foi reconhecida porque o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 com a Espanha, reservava para Portugal essas terras. Se chegou mesmo a Cabo de Santo Agostinho é outra história.
Pinzón partiu com uma esquadra de quatro caravelas do porto de Palos de la Frontera, sua cidade natal, em novembro de 1499. Na manhã de 26 de janeiro de 1500, avistou terra. Ao contrário de Cabral, que encontrou índios amistosos, o espanhol foi recebido a flechas pelos potiguares. Morreram vários espanhóis, e 36 índios foram capturados e levados para a Europa. A expedição está registrada em documentos da época e é amparada por pesquisas de historiadores desde o século XVI. O nebuloso é o ponto exato em que a esquadra aportou depois de passar por Cabo Verde. Há três hipóteses (veja mapa). O historiador português Duarte Leite acredita que foi ao norte do Cabo Orange, na fronteira com a Guiana Francesa. Os espanhóis apostam no Cabo de Santo Agostinho. Já o historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen batia pé em Ponta do Mucuripe, no Ceará. “Pinzón veio antes de Cabral. Mas isso nada significa para a História brasileira”, opina o almirante Max Justo Guedes, diretor da Divisão de Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha.
Em Cabo de Santo Agostinho ninguém dá atenção às provas em contrário. As comemorações começam em novembro com a assinatura de um convênio de fraternidade com a cidade de Palos de la Frontera. A partir de 26 de janeiro, haverá missa, peças teatrais e um seminário com historiadores brasileiros, portugueses e espanhóis. O nome Cabo de Santo Agostinho foi dado em 1501 por Américo Vespúcio, cujo prenome serviu para denominar todo o continente. Pinzón tinha chamado o lugar de Santa María de la Consolación, se é que se está falando do mesmo lugar. A 33 quilômetros do Recife, Cabo de Santo Agostinho tem 150.000 habitantes, praias belíssimas, vive do turismo e do complexo industrial de Suape. A prefeitura quer aproveitar os 500 anos para atrair mais turistas. Mesmo que seja preciso reescrever a História do Brasil.