Publicada em 14 de junho de 2005
O Estado de S. Paulo
Eduardo Nunomura
Enviado especial
EL ALTO, BOLÍVIA
O carpinteiro Abel Mamani, de 38 anos, tem no currículo a queda de dois
presidentes bolivianos. Em 2003, foi um dos responsáveis por paralisar El
Alto. Na ocasião, os confrontos e a morte de mais de 70 pessoas resultaram
na queda de Sánchez de Lozada. Desta vez, voltou a orientar as Juntas de
Vizinhos, cuja federação ele preside, a instalar bloqueios na cidade. La Paz
ficou isolada e Carlos Mesa atribuiu a ele parte da responsabilidade por sua
renúncia.
O que querem do novo governo?
Ele tem de deixar sua posição clara imediatamente sobre os hidrocarbonetos e
a Constituinte. Esperamos que (o novo presidente) Eduardo Rodríguez
demonstre essa vontade. Estamos falando da nulidade dos contratos (com as
transnacionais que exploram o petróleo e o gás), reconhecida pela Corte
Suprema. Queremos que o Congresso também aceite essa decisão. A partir daí,
podemos falar de uma verdadeira nacionalização dos hidrocarbonetos.
Há outras demandas?
O julgamento por responsabilidade (contra Sánchez de Lozada) está nas mãos
da Justiça, mas o governo deve colaborar. E há o tema da industrialização do
gás, que poderia resultar em maiores fundos econômicos ao país.
Pode um governo de transição tomar decisões tão definitivas?
Creio que não, sobretudo nos temas do julgamento por responsabilidade e da
industrialização do gás. Mas, para a Constituinte, o governo pode ter ação
fundamental. Não vamos dizer que o presidente esteja livre de tomar decisões
por estar tudo na área do Congresso.
Só El Alto mantém seus protestos. Vocês estão isolados?
Não. Finalmente fazemos parte das reivindicações do país. Neste momento,
somos os atores principais. As outras regiões podem não compartilhar nossas
idéias. El Alto assumiu sua responsabilidade e vai continuar assim.
Na política mundial, quem é seu maior ídolo?
Fidel Castro. Tenho uma estátua dele em meu escritório.