Posse interessa mais que réveillon em Brasília

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Publicada em 1 de janeiro de 2003
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
BRASÍLIA – Assim que os primeiros raios de sol apareceram ontem à tarde na
capital federal, os Palácios da Alvorada e do Planalto, Congresso e
Esplanada dos Ministérios viraram atração turística obrigatória. Apesar de
estar a poucas horas da festa de réveillon, os turistas-eleitores davam mais
atenção à festa da transmissão do cargo.
Como num show de música, alguns decidiram posicionar-se na frente do
Parlatório, onde o já empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará
seu discurso, para tentar guardar lugar.
“Há 20 anos esperei por isso. Acredito tanto nesse homem que todo sacrifício
que fizer será pouco”, afirmou o eletricista e “militante do PT” Lauriano de
Souza Almeida, de 38 anos. Ele estava grudado na cerca de contenção, na
Praça dos Três Poderes. Guardava o lugar para a mulher, o filho e a nora,
todos vindos de Cubatão. “O champanhe desta noite será aqui mesmo, à espera
do amanhã.” Ao seu lado estavam os “militantes do PT” Robson Messias, de 32
anos, e Walter Paulino Costa, de 43.
Vieram de Abel Figueiredo, no Pará, na base da carona. Sem lugar para ficar,
se revezam para dormir debaixo de um túnel. “Estamos reservando um lugar
privilegiado. Jamais perderia esse momento histórico”, disse Costa. Comida,
só um queijo que trouxeram na mala. Para ir ao banheiro também se revezam e
vão à Rodoviária de Brasília.
Movimentação extra – Ontem à tarde, os guardadores de lugar viram uma
movimentação extra. Índios paracarus, de Pernambuco, aproveitaram uma visita
de reivindicação na Funai para ver a posse de Lula. Na aldeia, o petista
obteve 100% dos votos, garantiu o cacique Zé Índio. Eles fazem parte da
festa extra-oficial e torcem para conquistar um espaço na cerimônia,
dançando para Lula. “Se ele quer resgatar os direitos do brasileiro, terá de
começar pelos direitos indígenas”, afirmou o cacique.
Na frente do Palácio da Alvorada, até ontem residência de Fernando Henrique
Cardoso, o baiano Ranulfo Nascimento, de 32 anos, brincava de ser
presidente. Anteontem, ele recebeu um cartaz com a foto de Lula e decidiu
fazer com ela uma máscara. Vestiu um paletó, comprou o RG do presidente
petista e uma faixa verde-e-amarela. Não se esqueceu da estrela do PT.
“Queria entrar no palácio, mas não teve jeito”, brincou.
O músico mineiro Osvaldo Bastos, que hoje mora em Brasília, é um dos
organizadores do réveillon vermelho-e-branco. A idéia surgiu para atrair a
multidão de petistas que vieram à cidade. Foram colocadas faixas pela
Esplanada para convocar os turistas. “O vermelho também fará parte dessa
virada de ano histórica”, disse Bastos. O evento, que seria realizado no
Clube ABR, custava R$ 40.

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