Publicada em 3 de dezembro de 2008
O Estado de S. Paulo
Eduardo Nunomura
Enviado especial
ITAJAÍ
A previsão é de que o Porto de Itajaí volte a receber navios, precariamente, em até 20 dias. Em três meses a dragagem do Rio Itajaí-Açu deve ser concluída. Em caráter de emergência, o ministro Pedro Brito, da Secretaria Especial de Portos, vai autorizar a contratação de uma empresa para limpar o canal que dá acesso ao porto e ao terminal de Navegantes, um em cada margem do rio. Devem ser retirados 3,8 milhões de metros cúbicos de sujeira, que serão lançados no alto-mar. A operação deve se normalizar em seis meses.
As empresas têm até sexta-feira para enviar propostas para a dragagem. Na semana que vem, a draga já começa a nivelar o Itajaí-Açu. Com a enchente, o fundo do rio ficou muito acidentado. Há trechos com 22 metros de profundidade e outros com 5,5 metros – para a navegação, vale a menor medida. Antes das chuvas, a profundidade era de 11,3 metros.
As chuvas destruíram 740 metros de cais. Dos quatro berços de atracação, um foi levado pelas águas, outro foi destruído parcialmente e um terceiro sofreu avarias leves. O quarto atracadouro está em construção. Ele seria concluído em janeiro, mas o plano de reconstrução do porto prevê agora que a obra seja entregue até 15 de dezembro. O governo federal liberou R$ 350 milhões para as obras no porto.
Com o porto parado, perde o País. Por dia, ele movimenta US$ 33 milhões. Ele é o 2º maior terminal de contêineres e maior exportador de carne congelada. Representa 21,8% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e 4% da balança comercial do Brasil. As empresas de exportação e importação estão operando com os portos de Santos, Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC). “Significa custos adicionais e menos competitividade para os produtos”, lembrou o ministro Pedro Brito. Segundo o superintendente do porto, Arnaldo Schmitt, a estimativa é a de que 300 mil pessoas de todo o País, que dependem das atividades portuárias, sejam afetadas.
O estivador Antonio Cesar de Souza, de 50 anos, teve sua casa no bairro de São Vicente atingida pela enchente. E agora se vê sem serviço, sem poder ganhar semanalmente. “Se não trabalharmos, não ganhamos nada. Mesmo que em 20 dias os navios voltem a atracar, não haverá serviço para todos.” Os trabalhadores já pensam em migrar para outros portos temporariamente.
O porto, com 14 mil trabalhadores diretos, não é o maior empregador de Itajaí – o setor pesqueiro gera 130 mil empregos. Mas para a economia da cidade ele é vital: 70% dela gira em torno das atividades portuárias.
15 mil pescadores estão de braços cruzados
O setor pesqueiro de Itajaí representa 20% da economia da cidade, mas sua importância está na geração de 50 mil empregos diretos. São pescadores, limpadores de peixe, embaladores, fabricantes de gelo, rotuladores. As três maiores empresas de pescados enlatados são do município, que abastece 80% do mercado brasileiro. A enchente destruiu 900 embarcações, 15 mil pescadores da região estão parados e 67 indústrias foram atingidas. O setor deve voltar a operar parcialmente em uma semana. “A perda é gigantesca. A pesca é o setor que mais gera emprego e distribui renda em Itajaí”, resumiu o secretário municipal de Pesca, Antonio Carlos Monn.