Publicada em 20 de setembro de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou que “inegavelmente” a
alta do dólar, que ontem chegou a ser cotado a R$ 3,45, está relacionada com
o momento eleitoral. “Tem relação com a situação internacional e
inegavelmente com a tensão pré-eleitoral.” A declaração foi uma resposta
sobre o fato de a instabilidade da moeda americana estar sendo atribuída à
candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Serra fez questão de ressaltar que a situação internacional colabora para a
instabilidade e não quis dimensionar quanto a “tensão pré-eleitoral” está
influenciando a economia. “Sou candidato e não analista econômico, apesar de
que sou economista.”
Em maio, o tucano criticou as especulações do mercado financeiro
internacional que havia rebaixado os indicadores do Brasil por causa da
liderança de Lula nas pesquisas. “Não há motivo realista para isso. Os
banqueiros americanos ainda pensam que a capital do Brasil é Buenos Aires”,
disse, na época.
Ontem, o presidenciável do PSDB ressaltou uma de suas metas para o próximo
governo, que é dar ênfase no comércio exterior. “A exportação gera empregos
de duas maneiras: diretamente na atividade exportadora e indiretamente ao
trazer mais dólares para o Brasil, o que permite importar máquinas, baixar
os juros.”
Elogio – Indagado a exemplificar como a atividade exportadora beneficia a
economia brasileira, Serra citou um município administrado pelo PT. “É uma
cidade que tem atividade de exportação, está bem organizada, por exemplo,
Pelotas.” A cidade gaúcha é governada pelo prefeito petista Fernando Marroni.
O tucano provocou os adversários, afirmando que todos têm proposta para
aumentar os empregos no País, mas, na sua opinião, não dizem como fazer
isso. “Nesta campanha, os candidatos estão falando de emprego, mas criticam
o desemprego. Propostas? Muito poucas.”
Serra, que ontem participou da gravação do programa Tome Conta do Brasil
Especial, da MTV, evitou analisar como romper a barreira dos 20 pontos
porcentuais nas pesquisas e respondeu à pergunta com um de seus slogans de
campanha. “Trabalho, trabalho, trabalho. Pra gente, trabalho, trabalho,
trabalho.” Depois da gravação na MTV, o presidenciável tucano faria
gravações para os programas eleitorais.
Site do candidato usa Jader para atacar Serra
A coordenação da campanha de Ciro Gomes (PPS) decidiu voltar sua artilharia
contra José Serra (PSDB). Pela internet, questionou pesquisas eleitorais,
ironizou a promessa de criação de 8 milhões de empregos dos tucanos e tentou
vincular o adversário a Jader Barbalho, afirmando que o ex-senador é “um
dileto amigo do candidato José Serra”.
O comentário, divulgado de manhã no site www.cirogomes23.com.br sob o título
“Aliado de Serra foge da Justiça”, foi requentado à tarde. “Ainda hoje,
Jader, que é candidato a deputado federal pelo PMDB paraense, apresenta
Serra como seu candidato presidencial em todo seu material de campanha.”
Os tucanos devem se preocupar ainda com duas frentes da batalha virtual. Uma
é a do site do rival do PSB, Anthony Garotinho (www.garotinho40.com.br), que
atacou Serra e afirmou que sua candidatura não decola. “A campanha dele é um
Bateau Mouche”, replicou, referindo-se ao barco que naufragou no Rio, no
réveillon de 1988.
Outra é que o PT respondeu. Ou, nas palavras do jornalista Ricardo Kotscho,
assessor de comunicação de Lula: “Reagir aos ataques, sem cair na baixaria.”
No site de Luiz Inácio Lula da Silva, Kotscho publicou seu primeiro
editorial da campanha. Mas, apesar do título do texto, ele usou termos
ácidos para descrever os tucanos. “É preciso ter cabeça fria, coração quente
e os pés no chão para não entrar nas provocações dos urubus gordos
travestidos de outras aves.”
Vítima e vilão – A reação do PT pela internet (www.lula13.org.br) tentou
fazer de Lula uma vítima e de Serra, um vilão. Comparou o programa tucano de
terça-feira com a campanha de 1989, na qual o petista foi derrotado pelo
ex-presidente Fernando Collor.
O site de Serra (www.joseserra.com.br) ironizou. “(O PT) Gosta também de
posar de vítima mesmo quando é o agressor.” Era mais uma referência à frase
do presidente do PT, José Dirceu, utilizada no programa eleitoral. E cobrou:
“Por que José Dirceu não vem a público e simplesmente pede desculpas a
Covas, o que aliás já deveria ter feito naquela época?” O PT tem dois
hábitos “curiosos”, segundo os tucanos: “Gosta de reescrever a história
conforme suas conveniências táticas. Em troca de apoio eleitoral, adula e
‘anistia’ hoje os políticos que ontem chamava de corruptos.”