Publicada em 25 de dezembro de 2002
O Estado de S. Paulo
Os ministros indicados Antônio Palocci Filho (Fazenda) e Guido Mantega
(Planejamento) vão ter de afinar os discursos se não quiserem ser advertidos
pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois já demonstraram
ter opiniões divergentes ao longo da campanha. Mantega foi um dos principais
formuladores da parte econômica do programa do PT, este coordenado por
Palocci.
O economista já chegou a afirmar que a ampliação do superávit primário de 3%
para 4% em 2002 seria “um absurdo” – a meta atual é de 3,75%. Um pouco antes
do primeiro turno, Palocci reafirmou esse compromisso: “No curto prazo,
temos que fazer superávit, eventualmente até maior, para que se possa
garantir uma situação mais saudável para as contas brasileiras.”
Mantega tem insistido na redução da taxa de juros. Em 15 de outubro,
classificou a determinação do Copom de aumentar os juros para 21% de
“equivocada” e disse que a medida não serviria para conter a alta do dólar,
nem controlar a inflação. Uma semana depois, o ex-prefeito de Ribeirão Preto
afirmava: “É dito no nosso programa que reduzir juros não depende só da
vontade do governo. É preciso criar condições para que se possa reduzir a
taxa de juros. O controle da inflação é o ponto central dessa decisão.”
No dia 14 de novembro, Mantega insistia: “As taxas já estão em patamares
bastante elevados e um aumento neste momento não teria eficácia sobre o tipo
de inflação pela qual o País está passando, que não é causada pela demanda.”
O discurso e a disposição de negociar de Palocci prevaleceram. Já indicado
ministro, conseguiu emplacar na presidência do BC o banqueiro Henrique
Meirelles, um tucano de idéias liberais. O oposto do que imaginava Mantega
para o órgão: “Pelo que eu conheço do Lula, é difícil indicar um economista
liberal. Estaria em descompasso com as idéias do PT.” Palocci é elogiado por
economistas e, para muitos, um sucessor com posições muito semelhantes ao do
atual titular, Pedro Malan. (Eduardo Nunomura)