Onde está Davinia?

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Publicada em 9 de julho de 2005
O Estado de S. Paulo

Eduardo Nunomura
Quem é Davinia, a misteriosa mulher mascarada cuja imagem percorreu o mundo
e simbolizou o drama das vítimas do atentado em Londres? Paul Dadge quer
saber. Ele está sendo chamado de herói, mas se recusa a assumir o papel pelo
que fez quinta-feira. O jovem britânico de 28 anos foi quem pôs uma máscara
anti-séptica em Davinia, abraçou-a e guiou-a por alguns metros para um lugar
seguro. Ela mal podia enxergar com o pano que dificultava sua visão, mas
amenizava a dor das queimaduras e feridas no rosto. “Espero que esteja bem.
Ela está bem, sei disso”, afirmou ele ontem ao Estado por telefone.
“Não sou herói”, disse Dadge. Ele estava a caminho do trabalho quando o
metrô parou na estação de Baker Street. Como a maioria fazia naquele
momento, seguiu o resto do percurso a pé. Achava que tinha sido uma pane
elétrica. Ao chegar a Edgware Road percebeu que algo grave acontecia. “Não
havia gritaria, mas muitas pessoas sangrando.” Por ter feito um treinamento
para bombeiro, decidiu ajudar. “Foram muitos heróis anônimos,” disse.
Dadge viu vítimas sendo socorridas numa loja da Marks and Spencers, quando a
polícia alertou que iria esvaziar o local. “Foi nessa hora que ajudei
Davinia. Ela era muito corajosa, não gritava, mas parecia que estava em
choque.” Dadge teve tempo de perguntar: “Você está bem? Vou pôr a máscara
para aliviar sua dor.” Mas antes já tinha notado: ela era bonita, “muito
bonita”, e não devia ser inglesa, por causa do sotaque. Coordenador de
projetos da AOL, permaneceu ao lado dela por cerca de cinco minutos.
A fotógrafa Jane Mingay, da Associated Press, registrou o momento. Sua foto
correu o mundo e já se tornou uma das cinco mais vendidas pela agência de
notícias este ano. Tanto que o mundo jornalístico se viu às voltas com o
mesmo desafio: quem será Davinia? “Gostaria de saber também”, disse Jane.
Jane, que fotografou os resgates de vítimas do tsunami no Sri Lanka, afirmou
que essa foi a mais representativa cobertura fotojornalística de sua vida.
Aconteceu por acaso. Estava indo fazer uma outra reportagem quando o
trânsito parou. Seguiu a pé e viu o tumulto perto da estação Edgware Road.
Por sorte, conseguiu chegar instantes antes de os policiais formarem uma
barreira. E lá tirou a foto de Paul Dadge e Davinia.
“Na hora, só vi a cena desesperadora: uma mulher acompanhada por um homem,
ela com aquela máscara e os pés descalços”, lembrou Jane. “Ainda estou
chocada. Quase não tive tempo de assimilar o que houve.” E o outro
personagem, Dadge, pensa assim: “Não tenho idéia do que vai ser agora. Mas
gostaria de voltar a minha vida normal”, desabafou ontem, após ter passado o
dia todo dando, claro, entrevistas.

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