Publicada em 1 de julho de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
YOKOHAMA – Felipão ganhou o tão merecido reconhecimento popular.
Criticado por torcedores que raras vezes o deixaram em paz, o técnico fez as
pazes com eles em Yokohama. Os brasileiros reverenciaram o treinador,
gritaram seu nome e aplaudiram o responsável pela conquista do
pentacampeonato do mundo. “Foi um homem que enfrentou a população brasileira
e nos deu o título”, reconheceu o analista financeiro Milton Rocha, de 29
anos. “Graças a ele, a festa está acontecendo no Brasil e no Japão.”
Morando na Austrália, Rocha e o amigo Neville Gonçalves chegaram ontem ao
Japão só para ver o Brasil disputar a final. Queriam realizar o sonho de ver
a seleção conquistar o pentacampeonato. “Apesar de muitos não acreditarem no
sucesso do Brasil, provamos ao mundo inteiro que temos o melhor futebol do
mundo”, afirmou Gonçalves, de 33 anos. “Se algum time almeja ser melhor que
nós, vai ter que provar o contrário.”
Foi assim, com muita alegria e orgulho, que os torcedores brasileiros
comemoraram a vitória do penta. Dentro e fora do estádio, a festa
verde-amarela contagiou a todos. Até os jogadores se sensibilizaram com a
vibração. “Não há definição para descrever essa torcida”, disse o atacante
Denilson logo após chegar ao hotel, que também mandou um recado geral.
“Conseguimos fazer 170 milhões de brasileiros mais felizes durante outros
quatro anos.”
Ontem, os torcedores brasileiros chegaram confiantes ao estádio. Yokohama
parecia mais festiva que outras cidades-sede que acolheram o Brasil neste
Mundial. “Os outros estádios ficavam no meio do mato ou do nada. Aqui, é
diferente, dá para comemorar”, afirmou o estudante Roberto Rittes, de 28
anos. “A festa só podia ser de vitória: nossos três melhores jogadores são
atacantes e o único bom deles é um goleiro”, zombou Paulo Veras, de 29 anos.
Muitos dekasseguis assistiram ao jogo da final. Não foram poucos os que
fizeram sacrifícios para participar da festa. “Pedi as contas do meu serviço
só para acompanhar a seleção. Era um sonho que estou realizando hoje”,
comemorou o paranaense Clóvis Araújo, de 40 anos. Pedro Borba, de 38, pagou
US$ 600 por um ingresso. Era o dobro do valor oficial, mas foi o que
precisou pagar a um amigo, que ficou na fila para comprar a entrada. “Quanto
custaria uma decisão no Maracanã? Ver o Brasil campeão vale qualquer preço”,
disse.
“Vou comemorar aqui e no Brasil”, afirmou o financista Luiz França, de 44
anos. Apesar de ter o privilégio de ver a seleção pentacampeã do mundo, ele
não via a hora de retornar. “Com certeza, a comemoração por lá deve ser das
mais empolgantes.” Para levar a batucada dentro do estádio, o amigo de
França, o administrador de empresas Rodrigo Garcia, de 27, fez um
malabarismo para entrar no estádio com um surdo. “O jeito é entrar de
fininho.” No hotel da seleção, alguns poucos jogadores se aventuraram a
participar de uma festa de jornalistas, como Marcos, Dida e Anderson Polga.
“É indescritível a emoção de ser pentacampeão”” comentou o dentista Alex
Frade, de 35 anos. E a partir de agora, o que vem mais? “Aí você me pegou.
Sexa? Sexta? Sei lá.”
Hexa. Agora, a próxima meta do time do Brasil é ser hexacampeão. Mas essa é
outra história.