Publicada em 14 de março de 2004
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Uma porta de vidro separa o mundo externo do universo de cuidados especiais.
No largo corredor de portas identificadas por placas, homens e mulheres de
aventais azuis, beges e verdes circulam com freqüência. Adentrar pela
primeira vez nesse ambiente é angustiante. Nas salas, tudo o que se vê são
caixas de acrílico ligadas a um emaranhado de fios, tubos e equipamentos
médicos. Dentro delas, minibebês, incrivelmente pequenos. Quase não se ouve
o choro deles. Só o bip dos aparelhos. Os rostos dos pais não escondem a
preocupação. Mas médicos e enfermeiros estão acostumados. Eles sabem que ali
a luta pela vida se faz a cada precioso minuto.
Durante uma semana, a reportagem do Estado acompanhou a rotina da Unidade
Neonatal da Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de
São Paulo. Diferente de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde muitas
vezes se luta para adiar a morte, na dos minibebês a batalha é pela
continuidade duradoura de uma vida recém-iniciada. É um trabalho incessante,
de muito stress e tensão. Mas as vitórias do dia-a-dia compensam. Estas não
se medem nas respirações e nos batimentos cardíacos sem sobressaltos de cada
incubadora. São calculadas em número de visitas de pais que voltam para
mostrar com orgulho os filhos sãos e salvos, prontos para crescer.
A maternidade foi inaugurada em 1972 como a primeira unidade de alto risco
da América do Sul. Para lá são encaminhadas as gestantes que merecem
acompanhamento especial. Elas sofrem de diabete, hipertensão, moléstias
cardíacas, desnutrição, problema renal, infecção urinária ou tiveram outra
gravidez complicada. Nessas situações, os bebês podem vir ao mundo mais
cedo, prematuros. Ou nascem doentes e desde o primeiro minuto após o parto
já devem ser tratados.
1.º dia
Às 10 horas do dia 13 de fevereiro, Rosinete Alves da Silva inicia uma
sessão de relaxamento pré-parto. Assistida pelo médico Adalberto Kiochi
Aguemi, a dona de casa começou a sofrer de hipertensão específica de
gravidez a partir do sexto mês. Há 15 dias, a jovem de 29 anos foi levada
para a Casa da Gestante, um espaço da maternidade para as mães consideradas
de alto risco. Internadas por precaução, evita-se que apresentem um problema
súbito longe dos cuidados médicos.
Mãe de uma menina nascida de parto natural, Rosinete teve um salto na
pressão na noite anterior, o que a obrigou a subir para a sala de parto.
Ouve do médico Aguemi que adiarão o máximo que puderem o nascimento de Alan.
Metade dos partos na maternidade é natural. A cesárea só ocorrerá se o bebê
der sinais de sofrimento. Enquanto isso, a futura mãe relaxa numa bola
gigante de plástico e num cavalinho, um móvel de ferro e almofadas que
conforta a coluna vertebral. “Acho que estou em boas mãos. Desde que cheguei
fui muito bem tratada.”
Um andar acima, o médico Pedro Alexandre Breuel recebe a visita de Ednéia
Silva Paulo Ferreira, de 33 anos, e do seu filho Wendel Gabriel. Prematuro
de 32 semanas, o pequeno Wendel está, aos 8 meses, com 6,5 quilos. Nem se
parece com o menino que nasceu com 1.290 gramas, ficou três dias na UTI e
uma semana na semi-intensiva. “Só tenho de agradecer a Deus. Tive muito medo
de não tê-lo em meus braços”, diz a mãe. “A gente luta tanto para salvar
essas crianças e vê-las voltar grandes assim é uma conquista. Além de
médico, sou pai de muitos desses aqui”, afirma Breuel, encarregado da
unidade semi-intensiva.
Numa sala reservada, a médica Cláudia Tanuri, encarregada da UTI neonatal,
discute os casos com os médicos residentes e plantonistas. São 11 bebês, 5
com alguma enfermidade, 4 prematuros e 2 em observação. Victor, na sala 3 da
UTI, é o que mais necessita de cuidados naquele momento. A residente
Andressa Lozano ajuda na leitura do prontuário do menino, nascido com 1.295
gramas e de 30 semanas.
O pulmão de Victor já nasceu comprometido e ele sofre da síndrome do
desconforto respiratório. Nos próximos dias, é preciso forçar o órgão a se
formar melhor. “Ele vai ficar bem, ele vai ficar bem”, torce a residente.
“Temos de vigiá-lo com quatro olhos. Qualquer piscada, qualquer
instabilidade térmica, temos de observar tudo com o máximo de atenção”,
orienta a médica Cláudia. “Já salvamos outros bebês com quadros mais graves.”
Nesse dia, como em todos os outros, a médica Denise Lopes Santos visita a
unidade neonatal. Ela é a vigilante do maior inimigo dos berçários infantis,
a infecção hospitalar. Por ser um hospital Amigo da Criança, o que implica
humanizar todo o tratamento, a maternidade permite o acesso de pais à
unidade neonatal diariamente das 8 às 22 horas. Apesar de todo o carinho que
levam aos recém-nascidos, eles podem carregar bactérias invisíveis. Os
profissionais também. Para reduzir o risco de uma infecção, só entra nesse
local quem lava as mãos muito bem com sabonete líquido misturado em álcool.
2.º dia
Por ser uma maternidade-escola, a Vila Nova Cachoeirinha tem uma preocupação
em formar futuros neonatologistas. Atualmente, são sete médicos residentes.
Além da prática, acompanhando os minibebês diariamente, recebem aulas e
treinamento. Uma delas é o de técnicas de reanimação: o que fazer numa
parada cardiorrespiratória, como intubar a criança, como não perdê-la para
sempre. Os médicos Cláudia Tanuri e Pedro Breuel, voluntariamente, orientam
os alunos com bonecos de bebê.
Já na unidade neonatal a chefe de enfermagem Jomara Farias Pereira checa se
tudo está em perfeitas condições. A maternidade opera com 16 leitos na UTI,
12 na semi-intensiva, 12 nos cuidados especiais e 44 no alojamento conjunto.
Poderia ampliar esse atendimento se houvesse mais equipamentos e
profissionais. Num corredor, há nove incubadoras e dez aparelhos de
fototerapia para o bebê, o octofoto e o bilispot, esperando conserto. Uma
espera burocrática que impede de salvar mais bebês.
Mas Jomara, enfermeira com 15 anos na maternidade, tem outras preocupações.
Uma delas é como interagir num ambiente em que os profissionais e pais se
esbarram a toda hora. Quando um enfermeiro for laçar uma veia, a punção, a
criança chora muito e os pais se afligem. “Em muitos casos, pedimos para
eles saírem. Alguns momentos parecemos agir com agressividade, por mais
cuidado que tenhamos”, confessa.
A jovem Fabiana Mello, de 20 anos, sente isso nas vezes que volta a ver seu
filho intubado. Bebês de alto risco podem ficar dias entre uma respiração
natural e a artificial, por meio de tubos. Às vezes, por serem tão
minúsculos, se esquecem de respirar. Carlos Henrique nasceu com 740 gramas e
padrão apgar 6-8. Isso quer dizer que a sua “nota”, os sinais vitais, em seu
primeiro minuto após o parto era 6 e no quinto, 8. No dia 3 de fevereiro, a
babá Fabiana caiu sentada e rompeu a bolsa. Nem tinha comprado uma peça do
enxoval quando descobriu que daria à luz às pressas.
Os médicos injetaram corticóide antenatal em Fabiana antes do parto. O
primeiro choro de Carlos Henrique foi mínimo, quase um “miado”, segundo ela.
“Comecei a chorar quando levaram ele de mim. Só no dia seguinte subi à UTI
para vê-lo. Nunca tinha visto nada igual.” Na mente dela, dúvidas comuns a
outras mães de prematuros: “Quanto tempo ele vai ficar aqui?”, “O que vai
acontecer depois que sair?” ou “Ficará com alguma seqüela?” Por diversas
vezes, ela já se sentiu impotente e incapaz de lidar com essa situação. “Foi
horrível, está sendo horrível, mas rezo para que possamos sair juntos daqui.”
3.º dia
Grávida de cinco meses, a auxiliar de enfermagem Helen Soares de Toledo
alimenta João Arlindo, de 3.400 gramas. Seu apgar foi de 2-7, o que fez os
médicos internarem o menino na UTI por precaução. Depois de três dias e como
não apresentou sinais de doença, deverá ser transferido para a
semi-intensiva. “Quando ele é pequeno e está bem, a gente fica mais calma.
Mas eu particularmente fico meio arisca quando vejo bebê grande na
incubadora”, confidencia Helen. Não é por acaso: ela própria já perdeu
outros dois bebês, um com nove meses.
Nesse dia, outras duas crianças deram entrada na UTI neonatal. Um nasceu de
madrugada com pouco mais de 36 semanas e 2.130 gramas, cujo irmão gêmeo, um
pouco menorzinho, de 1.770 gramas, teve melhor sorte e foi direto para a
unidade semi-intensiva. O segundo bebê nasceu “termo”, que no jargão médico
significa com 40 semanas de gestação. Conta, em muitos casos, o estado de
saúde da mãe. Na maternidade Cachoeirinha, um em cada quatro bebês vai parar
na unidade neonatal – a média de um hospital convencional é de 5%.
“Vivemos num ambiente muito rico, porque lidamos com o sofrimento humano e
algumas vezes só com uma palavra já podemos minimizar isso”, explica a
médica Miriam R. Faria Silveira, gerente da unidade neonatal. E é possível
dar esperanças a todos os pais? “Sempre mantemos alguma esperança, enquanto
houver vida. Trabalhamos os pais para que eles se mantenham informados e
apoiados durante toda a sua estada e não se afastem dos bebês mesmos nos
casos gravíssimos.”
4.º dia
O auxiliar de enfermagem André Lima Urtado, de 25 anos, parece maravilhado
em lidar com os minúsculos bebês. Conversa com eles como se fossem seus
filhos. Com uma mão volumosa, Urtado sabe que tem de redobrar a atenção ao
ajeitar um bebê na incubadora. Ter de ser mais delicado não impede que os
pais acariciem os minibebês. “Eles também são muito sensíveis ao toque”,
aconselha.
Em outra sala, a fonoaudióloga Vera Cerruti ensina a três mães como elas
devem se comportar agora que seus filhos terão alta hospitalar. Ela lembra
que o acompanhamento médico será fundamental para o desenvolvimento. Por ter
nascido prematuro ou com alguma doença, o bebê de uma unidade neonatal
poderá começar a falar ou andar mais tarde, mas com a ajuda de um
profissional ele poderá recuperar essa diferença. “Mas o pior já passou, que
eram as noites. É desesperador não saber o que podia acontecer com a Ingrid
quando ia embora”, diz Priscila Lopes Rezende, uma adolescente de 16 anos e
mãe de Ingrid.
A dona de casa Ana Paula da Silva Rodrigues, de 25 anos, passou por tudo
isso. Numa visita ao ambulatório para pesar Giovanna, hoje uma forte menina
de 1 ano e 7 meses, ela aproveita para rever os médicos e enfermeiros. Foram
48 dias na UTI e 3 na semi-intensiva. “Antes de ela nascer, disseram que
podiam garantir a minha vida, mas não a dela. Como uma mãe se sente ouvindo
isso? Só que não ia ver minha filha.” Giovanna nasceu com 975 gramas. Houve
dias em que ela ganhou 10 gramas de peso. Outros, nem isso. E Ana Paula só
podia chorar. Hoje, exibe orgulhosa a pequena, com seus 9 quilos.
Treinamento – O peso é ganho com muito leite materno. É nessa hora que entra
a fonoaudióloga Vera, que ensina as mães a amamentarem os minibebês. Já na
unidade semi-intensiva o recém-nascido pode mamar no peito da mãe. Só que
ele ainda tem de aprender como fazer isso. Eliana Souza Menezes e Claudia
Pereira de Lima, mães de Diego e Yasmin, respectivamente, recebem as
instruções. Uma das técnicas é o da sucção digital: usando luva cirúrgica,
Vera cola um tubinho no dedo mínimo e insere na boca dos bebês. Na outra
mão, controla a saída do leite da seringa. “Eles não têm o relógio biológico
e, às vezes, podem dormir demais sem querer mamar”, diz.
Nas 24 horas de uma UTI sempre há um fisioterapeuta de plantão. Eles estão
ali para tornar mais confortável a vida do bebê prematuro ou doente. Por
isso, tentam manter a criança numa posição quase fetal, curvada e fletida,
fazem a limpeza dos finos tubos respiratórios – as cânulas – e a estimulação
motora dela. “No caso dos prematuros, eles não sabem fazer praticamente
nada, porque teriam esse aprendizado nas últimas semanas de gravidez”,
explica a fisioterapeuta Claudia Almeida Silva Giannattasio.
Pouco depois do meio-dia, Victor, o bebê em situação delicada, é submetido a
uma drenagem do tórax. Pela manhã, estava estável, mas subitamente seu
frágil pulmão parou de funcionar corretamente. Logo ao nascer ele adquiriu
uma sepse (infecção), o que deixou ainda mais grave seu quadro. A
plantonista Francis Mary tenta por mais de uma hora reverter o pneumotórax,
o terceiro em seus 16 dias de vida. Victor tem uma parada
cardiorrespiratória e morre. “A gente luta até o último momento, investimos
o máximo nele, mas era um bebê prematuro extremo”, diz Francis. A morte
também é parte da rotina. A taxa de mortalidade numa UTI neonatal gira em
torno de 15%.
5.º dia
Às 19h50, chega do laboratório o exame de hemocultura de Laís, filha de
Ediane Leite Batista, de 20 anos. Negativo, como esperado. A menina nasceu
com a persistência de circulação fetal, mas não se trata de um problema
grave. Na barriga da mãe, a criança respira e se alimenta pelo cordão
umbilical. Ao sair dela, começa a respirar pelo nariz e pela boca. Laís não
fez a transição de um estado para o outro e acabou sofrendo de cianose, que
a deixou roxinha. Na incubadora, terá de aprender a respirar por conta
própria.
O médico Julio Cesar da Costa lê o prontuário de Laís e explica a situação
da filha à mãe, que até aquele momento parecia não saber muito por que o
bebê tinha aquela cor. E dá outras orientações: “Ainda hoje há mães que
acham que as crianças quando nascem são retardadas, não ouvem nem escutam.
Só que não é verdade, eles interagem e numa UTI isso também vale.”
Numa outra sala, o fisioterapeuta Claudio Souza Teixeira atende a pequena
Jennifer, que nasceu prematura, com pneumonia e hipertensão pulmonar. Ele
limpa o tubo respiratório e massageia o bebê. Estudos indicam que crianças
que são massageadas ainda na incubadora ganham peso mais rapidamente e se
tornam mais sensíveis. “Pronto, mãezinha, ele agora é todo seu.” Josefa
Barbosa Moreira, de 23 anos, responde para si mesma: “Para sempre, né, minha
filha?” Segundo os médicos, esse era um caso gravíssimo e, provavelmente,
numa maternidade que não fosse de alto risco ela não teria resistido.
Josefa não se conforma com o que está passando. Como outras mulheres,
cresceu ouvindo lindas histórias de como é maravilhosa a gravidez. Só que,
para as mães de uma UTI neonatal, a realidade parece injusta e cruel.
“Quando nasceu, a Jennifer não chorou. Levantei a cabeça por cima do lençol
e vi os médicos fazendo os primeiros socorros. Quando subi para vê-la, a
psicóloga me disse que era o bebê mais grave do berçário, que tinha de ser
forte. É só o que peço a Deus, ser forte”, desabafa a mãe.
“Toda vez que os médicos subiam só tinham notícia ruim para me dar.” Depois
de dez dias, ela começa a ver progressos em Jennifer, mas ainda culpa as
complicações do parto pela situação da filha. Acha que seu sofrimento
poderia ter sido evitado. Ela olha com muita desconfiança os médicos e
enfermeiros que vão tratar da filha. “Acho que estou respirando como ela,
com muito cansaço e medo.”
6.º dia
A assistente social Lucia Massae Moriya acompanha as mães do berçário. Para
que elas possam ficar mais tempo no hospital, seja para amamentar ou adotar
o método de canguru, a técnica de aquecer a criança mantendo-a no colo da
mãe, a maternidade oferece vale-transporte e refeições para as famílias.
Lucia se preocupa ainda com o destino de duas meninas. Foram abandonadas e
estão à espera de adoção. Uma tem um problema congênito e será difícil
encontrar um outro lar. A outra é normal e a mãe desistiu da criança. “Às
vezes sinto revolta. Depois de tanta luta para mantê-las vivas, não podem
simplesmente deixá-las.”
À frente da maternidade, o diretor-geral José Carlos Riechelmann cita as
dificuldades que enfrenta. Desde o começo do ano, o hospital estadual
vizinho desativou a maternidade e deixou de realizar mais de cem partos por
mês. Essa demanda saltou para a maternidade municipal. Parte do orçamento
deste ano, que seria empregado na unidade neonatal, terá de suprir o aumento
no atendimento.
Outra preocupação: mesmo se tivesse dinheiro, faltariam profissionais, os
auxiliares de enfermagem. “Apesar do cobertor curto, ninguém morre de frio à
noite. Conseguimos manter a qualidade graças à capacitação dos nossos atuais
funcionários e por uma cultura de atender bem”, diz Riechelmann.
Às 18h35, chega o cirurgião Luiz Gonzaga da Silveira Arruda Junior. Foi
chamado às pressas para operar Gustavo, prematuro de 27 semanas e 970
gramas. Como terá de ficar mais alguns dias na UTI, o bebê sofrerá uma
flebotomia, que é a troca do cateter umbilical por outro passando pela sua
cabeça. Por ser prematuro, o médico teve dificuldades em passar o pequeno
tubo pela veia delgada. “Nos prematuros, é preciso calma, paciência e nunca
podemos perder de vista a evolução do quadro clínico”, explica depois. Foram
55 minutos na mesa de operação. A mãe, Irene de Souza Nascimento, de 39
anos, já tinha ido embora.
7.º dia
É um engano imaginar que os bebês prematuros não precisam de leite materno.
Estudos indicam que o leite dessas mães contém muito mais gordura, proteínas
com funções imunológicas e vitaminas que o de outras mulheres que deram à
luz no tempo certo. Por isso, a unidade neonatal mantém um banco de leite. A
nutricionista Elisa Ferreira da Cruz procura incentivar uma a uma para que
coletem o leite a ser usado na alimentação da criança. “Elas se sentem
impotentes, mas, quando descobrem que 1 mililitro já ajuda, mudam totalmente
a forma de pensar.”
A psicóloga Ana Lúcia Pinto Coelho, outra que busca orientar os pais, sabe
que nem sempre é fácil convencê-los a interagirem com as crianças nas
incubadoras. “A UTI é um ambiente completamente hostil, tudo é muito
assustador.” Para ela, uma das maiores dificuldades é manter esse vínculo de
pais e filhos. Mas o mais importante, explica Ana Lúcia, é que eles nunca
devem deixar de procurar um apoio profissional.
Para a médica Cláudia Tanuri, a luta pela vida melhorou muito numa unidade
neonatal. Há muito tempo, não havia remédios adequados. Depois, a medicina
se tornou dependente da tecnologia e uma década atrás os médicos só se
preocupavam com a sobrevivência da criança. Hoje, se fala em humanização no
tratamento da mãe e do bebê. E mesmo nos casos mais graves não se desiste
nunca. “Às vezes nos perguntamos quando interromper o sofrimento. Não há
resposta. A gente sempre tentará o máximo.”
A auxiliar de enfermagem Celusa Cândida da Cruz, de 53 anos, resume com
exatidão por que vale a pena lutar: “Acredito que os prematuros e os bebês
que nascem com problemas são para pais especiais, que saberão lhes dar amor,
carinho e segurança. E serão recompensados em dobro quando crescerem.”
Celusa é mãe de adoção de Ana Paula da Cruz, uma jovem que 22 anos atrás
nasceu prematura, de 1.200 gramas e poucos acreditavam que sobreviveria.
Como diz um pequeno cartaz na entrada da maternidade: “É preciso amar como
se não houvesse amanhã.”