Namorada vira estrela da campanha

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Publicada em 21 de julho de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
À primeira vista, a ascensão do presidenciável Ciro Gomes (PPS) parece ter
sido esquadrinhada nas pranchetas de geniais estrategistas políticos. Pelas
pesquisas, começou com 11% em abril, caiu para 9% em junho e não só reverteu
a queda, como chegou ao segundo lugar isolado. Livre dos ataques, o
candidato foi o último a aparecer nos programas eleitorais de TV. Proibido
de participar nos horários dos partidos coligados ao dele, a solução foi
levar ao ar a namorada, a atriz Patrícia Pillar. Deu certo. Muito melhor do
que previam ou podiam sonhar políticos e assessores ligados à campanha.
Se o PSDB não tivesse entrado com recurso para proibir a aparição de Ciro
nos programas do PDT e do PTB, Patrícia apareceria de forma mais burocrática
no ar. Assumiria, talvez, o papel de “mulher” do candidato. Mas, com o aval
dos partidos da Frente Trabalhista, o marqueteiro Einhart Jacome da Paz
decidiu criar um fato político. “A gente tinha algo forte e crível para
dizer que estavam tentando censurar o Ciro. Foi na hora certa”, reconhece.
A partir de agora, a realidade é outra. A estratégia não é mostrar “quem” é
Ciro, mas o que ele quer e como vai fazer, explica o marqueteiro. Paulistano
de 48 anos e cunhado de Ciro, Einhart (pronuncia-se Einar) prefere amenizar
sua participação. Diz que não acredita na “criação de um personagem”, mas se
preocupa em analisar as pesquisas para decidir que rumo dar à imagem do
candidato. “Desta vez, os eleitores estão mais maduros e interessados em
conhecer propostas.”
Cerca de 15 pessoas da agência New Trade vão coordenar a área de marketing
de Ciro. Uma produtora, a Teddy Bear, com outras 30 pessoas, se encarregará
dos programas eleitorais. Uma equipe com um cameraman, um assistente de
câmera, um jornalista e um fotógrafo vão acompanhar a maioria das viagens do
candidato. Só que eles viajam em vôos regulares, enquanto Ciro vai de
jatinho. “Não gosto de esquemas grandes, não funciona, é conflitante”,
afirma o marqueteiro.
Um dia por semana, pelo menos, Ciro ficará gravando inserções para a
propaganda eleitoral. Ele deverá contar com 8 minutos e 33 segundos, às
terças, quintas e sábados, mais 4 minutos divididos em oito comerciais de 30
segundos cada. Einhart aposta que, para seu candidato, o melhor é que ele
apareça da forma mais discreta possível nesse tempo.
Neste ano, os marqueteiros estarão preocupados com as aparições nos
programas jornalísticos. Como o noticiário político vai ser maior, é
importante que o candidato produza “imagens” diárias. “O eleitor acha que o
político em campanha que não vai para as ruas é preguiçoso. Ele não quer
saber para ir atrás, mas para ver na TV que seu candidato está trabalhando”,
interpreta Einhart.
“O maior espaço dos noticiários não assusta ninguém da campanha do Ciro”,
acrescenta o jornalista e editor Luiz Fernando Emediato, assessor de
comunicação da campanha. Emediato é o responsável por atender aos pedidos de
entrevista em programas de rádio e TV, e a orientação é “aceitar todos os
convites na medida do possível”. Como os adversários, o comitê financeiro
não divulga quanto dos R$ 25 milhões previstos para a campanha serão gastos
com mídia eletrônica.
Ciro comemora, agora, o bom desempenho após a série de entrevistas da Rede
Globo com os presidenciáveis. Pesquisas indicaram que ele, assim como Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), tiveram o melhor desempenho na tela.
União – O ‘casamento’ de Ciro e Einhart começou em 1988, quando ele foi
convidado pelo ex-governador do Ceará Tasso Jereissati para fazer a campanha
à prefeitura pelo PSDB.Foi nessa época que ele começou a namorar Lia
Ferreira Gomes, irmã do candidato. Em 1990, o publicitário fez a campanha
para governador de Ciro, e no ano seguinte, casou-se com Lia.
Em 1994, Einhart foi um dos marqueteiros da campanha “Mãos à obra, Brasil”,
que elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso. No ano passado, coordenou
as campanhas políticas do atual primeiro-ministro de Portugal, Manuel Durão
Barroso, e de Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

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