Publicada em 31 de maio de 2004
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
PORTO PRÍNCIPE – São 16 horas no Haiti e o jipe Toyota Bandeirante CFN
34320725, do Rio, passa por uma cancela vigiada por marines americanos. Num
caminho cheio de pedras e areia, em um aeroporto internacional, surgem as
bases e os equipamentos de tropas dos Estados Unidos, Canadá e Chile. Em
seguida, aparecem uma bandeira verde-e-amarela, três galpões de alvenaria e
os primeiros uniformes brasileiros. O Brasil já está instalado em solo
haitiano e amanhã assume oficialmente o comando das Forças de Paz da
Organização das Nações Unidas.
O transporte das mais de 25 toneladas de equipamentos e mantimentos
transcorreu normalmente. Ontem foi dia de faxina e de montar a parafernália
eletrônica. Os 42 brasileiros passaram mais de sete horas carregando a
mudança. O Sistema de Comunicação Militar por Satélite estava sendo montado.
Por dois telefones, em Brasília, o ministro da Defesa José Viegas e o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva vão poder falar com a tropa no Haiti.
Não há luxo na base. Nem deverá haver no período em que as forças
permanecerem no país – a previsão mínima é de seis meses. Os banheiros são
ao ar livre. O calor nos galpões é insuportável. Os homens sabem disso, mas
parecem estar acostumados.
O cabo Edson Nunes de Jesus, que nunca havia participado de missões
internacionais, é eletrotécnico. Nos próximos dias, cuidará de ajudar a
montar uma rede elétrica estável num país onde esse tipo de infra-estrutura
é caótica. “É a realização de um sonho.”
Cinco homens instalavam uma rede de computadores. A internet terá um papel
importante. Primeiro, de comunicação dos comandos com seus 1.200 homens e a
Força de Paz. A segunda é o contato com o mundo: uma equipe produzirá
noticiário online sobre as ações no Haiti.
O Brasil vai substituir a atual Força Multilateral Provisória, composta por
militares dos EUA, Canadá, França e Chile. Idéias não faltam para a tropa
brasileira, no sentido de baixar as resistências dos haitianos. O coronel
Antonio Carlos Faillace, adianta que vai propor a duas rádios locais um
programa semanal de 15 minutos: só com MPB.
Entre a carga trazida, há dezenas de caixas com bolas de futebol, vôlei e
basquete para serem distribuídas à população. Os militares imaginam pequenas
escolinhas de futebol nos campos haitianos.