Publicada em 24 de agosto de 1997
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, chorou. Em seguida,
abraçou seu irmão, Joaquim Tavares Pereira, de 56 anos, como consolo e começou
a falar muito rapidamente. Às 9h40 de ontem, Costa soube por seu advogado que
não seria mais solto, depois de ter completado 30 anos preso. Por decisão da
Justiça, Luz Vermelha foi transferido para a Casa de Custódia e Tratamento de
Taubaté, onde deve permanecer até que seja decidido o futuro de um dos mais
famosos presos do País, condenado a 351 anos, 9 meses e 3 dias de reclusão por
ter cometido 88 crimes graves.
Luz Vermelha só soube que não seria libertado na manhã de ontem. Por sugestão
de seu advogado, José Luís Pereira, a notícia da revogação de sua libertação
deveria ser dada ontem para que ele pudesse dormir tranqüilamente. Em vão.
Segundo o coordenador de estabelecimentos penitenciários, Lourival Gomes, Costa
teria dito a um dos funcionários da Penitenciária do Estado que viveu sua pior
noite nos últimos 30 anos. Estava ansioso para ser solto. Já tinha se preparado
para ganhar a liberdade.
A liminar concedida anteontem à noite pelo 2° vice-presidente do Tribunal de
Justiça, Amador da Cunha Bueno Netto, determinou que Luz Vermelha fosse
transferido para uma casa de custódia e tratamento psiquiátrico, mas não
especificou um prazo de permanência. No despacho do desembargador, Netto afirma
que, com a decisão de manter Costa em um manicômio, “está protegida não apenas
a sociedade, mas também o próprio sentenciado”.
O advogado de Costa afirmou que vai recorrer da liminar de cassação do alvará
de soltura. Ontem, às 7h20, Pereira esteve em frente da Penitenciária do
Estado, em sua caminhada que faz todos os dias. “Estou deprimido”, resumiu o
advogado, que mora próximo ao da prisão. Ele afirmou que não dormiu nos últimos
cinco dias, preocupado com seu cliente. “O Estado teve 30 anos para recuperar
João Acácio e se agora diz que não recuperou, é porque o sistema penitenciário
está falido. “
Segundo o coordenador Gomes, a revogação na libertação de Luz Vermelha
surpreendeu a direção do presídio. Tanto que tudo já estava preparado para a
saída de Costa. Até uma passagem no Terminal Rodoviário do Tietê havia sido
providenciada. “Mas se ele permanecesse aqui, estaríamos confrontando a lei”,
afirmou Gomes.
O coordenador do Coesp afirmou que manteve contato com o diretor da casa de
custódia de Taubaté logo pela manhã para solicitar a reserva de uma cela para
Costa. Gomes e o diretor da Penintenciária do Estado, Aniceto José Fernandes,
estiveram reunidos com psicólogos e assistentes sociais para decidir quando Luz
Vermelha seria solto.
Transferência – Às 11h30, Luz Vermelha foi levado por um carro da polícia a
Taubaté. Vestia camisa, calça e sapatos novos, presentes que recebeu de
funcionários da penintenciária. Levou consigo uma camisa e um aparelho de TV
quebrado. Chegou às 12h40 à Casa de Custódia de Taubaté, desembarcando no
interior do prédio. A imprensa não teve acesso ao local. Costa já fez
tratamento na Casa de Custódia três vezes, totalizando sete anos. Na última,
ele saiu em agosto de 1996.
Na terça-feira, Costa havia sido transferido, por decisão do coordenador Gomes,
de sua cela no Pavilhão 2 para a ala administrativa. Temia-se que ele pudesse
ser morto por outro preso. “Trinta anos é muito para quem vive num mundo
segregado; ele está desconectado do espaço e do tempo”, afirmou Gomes.
(Colaborou João Carlos de Faria)