Jovem brasileiro gosta de comprar e ver TV

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Publicada em 15 de março de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
O jovem brasileiro anda desiludido. Além de ser considerado cada vez mais
individualista, ele não se vê como responsável pelas transformações sociais,
pensa em obter um diploma só para ter uma profissão, despreza a política,
não gosta de ler e acha que tudo o que faz só causa impacto na sua própria
vida. Essa é uma fotografia da juventude do século 21.
Pesquisa do Instituto Akatu e do Indicator Pesquisa de Mercado, divulgada
ontem, véspera do Dia Mundial do Consumidor, traz novos rótulos para os
nascidos pós-ditadura militar. Foram entrevistados 259 jovens entre 18 e 25
anos das principais capitais do País. O estudo mostra que eles estão muito
preocupados com a competitividade no mercado de trabalho, rejeitam discutir
temas que não afetam suas vidas e vivem bem numa sociedade de consumo.
Esqueça os hippies, os pacifistas e a juventude transformadora. Eles têm
outras preocupações.
De cada dez jovens brasileiros, seis têm muito interesse em educação e
carreira. É um índice parecido com o de australianos e argentinos, mas
inferior ao de mexicanos e indianos. Nos países em desenvolvimento, investir
em educação é um atalho para o mercado de trabalho. No outro extremo, os
brasileiros destacam-se por sua aversão à política: só 10% demonstram
interesse. Ao contrário dos japoneses, argentinos e americanos.
A juventude brasileira é a que mais gosta de fazer compras e assistir a
programas de TV na comparação com jovens de outros países (França, Itália,
Japão, Estados Unidos, Argentina, México, Austrália e Índia). Isso não se
traduz em consumidores exemplares. Para 56% dos brasileiros entre 18 e 25
anos, comprar mais significa mais felicidade, pouco se importando com
problemas ambientais decorrentes do consumismo exagerado.
Um dado chamou a atenção dos pesquisadores: 62% consideram que o consumo
consciente faz parte de seus valores. “Até brincamos que se isso fosse
verdade estaríamos numa sociedade mais avançada. Mas essa é só a imagem que
o jovem faz de si próprio”, analisou Paulo Cidade, do Indicator. “Percebemos
que ele ainda não está preparado para a reflexão sobre o que é ser um
consumidor consciente”, disse o presidente da Akatu, Helio Mattar.
Os jovens brasileiros estão preocupados com o desemprego e a melhoria dos
sistemas de saúde, mas nem um pouco com o aumento populacional ou as
mudanças climáticas. Um indicativo de quanto pensam no hoje e pouco no
amanhã.
Na opinião deles, a forma como ocupam o tempo livre, trabalham e até comem
não afeta a economia, o ambiente ou a sociedade. Essa visão individualista é
uma marca registrada da juventude mundial, como aponta levantamento
semelhante feito em 2000 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e
Cultura em outros 24 países.
Mas engana-se quem pensa que o jovem consumidor brasileiro é influenciável.
Falam mais alto o preço e a qualidade dos produtos. Ele ainda se considera
livre para fazer as escolhas e é pouco manipulável. Ao contrário de
americanos e italianos, em que mais da metade dos jovens diz sofrer uma
influência negativa dos anúncios.

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