Publicada em 7 de abril de 2008
O Estado de S. Paulo
Eduardo Nunomura, Xangai
Diante de um notebook com a plaquinha ‘Pentium M Inside’, o repórter se vê diante da notícia: a Intel lançou, na semana passada em Xangai durante o Intel Developer Forum (IDF), cinco novos processadores Atom.
Com a promessa de baixo consumo de energia, os minúsculos chips de 7,8 milímetros por 3,1 milímetros podem atingir uma velocidade de até 1,86 GHz. A curiosidade fez esse escriba clicar com o botão direito o ícone ‘Meu Computador’ no desktop e descobrir que sua máquina tem velocidade de 1,73 GHz. A diferença é que os novos processadores servirão para equipar pequenos aparelhos portáteis, que cabem no bolso da camisa, e não este trambolho de 2,5 quilos.
O que isso representa? Para usuários que desconhecem a imensa disputa pelo mercado mundial de processadores, que talvez estejamos carregando peso demais. Para a Intel, que ela quer abocanhar um gigantesco filão que cresce literalmente nas mãos e nas mochilas de milhões de pessoas. Eles usam a internet em handhelds, players de música e vídeo, handhelds e outros MIDs (mobile internet devices) sem se importar com o processador.
A Intel viu concorrentes como Texas Instruments, Samsung, Qualcomm e OQQ ocuparem um importante espaço no universo de fornecedores de chips para as pequenas máquinas portáteis e sinalizou que vai entrar nessa briga. Em termos práticos, informou que os novos processadores Atom deverão chegar ao mercado no segundo semestre. Fabricantes de aparelhos que cabem no bolso, como Asus, Fujitsu, Toshiba, LG Electronics, BenQ e Lenovo, foram anunciados pela empresa como compradores do Atom. Apple e seu iPhone? Nenhuma palavra sobre isso.
O Intel Developer Forum é uma espécie de ‘vejam só o que estou fazendo’. Ou, em outras palavras, o mundo digital caminha para essa direção. Na edição Spring 2008, o IDF mostrou os novos processadores, como o lançamento do Atom e o anúncio dos outros que ainda estão por vir (veja texto nesta página).
Os novos Atom (Z500, Z510, Z520, Z530 e Z540) de minúsculos 45 nanômetros equivalem a 47 milhões de transistores em um único chip e terão velocidade de 800 MHz a 1,86 GHz. Consomem entre 0,65 e 2,4 watts (um chip de notebook beira na faixa dos 30). É a promessa de economizar a bateria, prolongando a vida útil. Os preços ficarão entre US$ 45 e US$ 160 para os fabricantes. Para o produto final, os MIDs, a idéia é que o preço mínimo será de US$ 400. As cinco versões, que na fase de projeto se chamavam Silverthorne, levaram quase quatro anos para ficarem prontas e servirão de base para a tecnologia de processador Centrino Atom.
NETBOOKS
A nova microarquitetura Atom também servirá para equipar os netbooks. Parece, mas não foi escrita a palavra ‘notebook’. Eles têm o jeito de um, permitem navegar na internet, conversar por mensagens eletrônicas ou VoIP (conversas pela internet como, por exemplo, pelo Skype), só que seu disco rígido não passa de 8 gigabytes. A Intel chama o netbook de um computador centrado na internet. Quem quiser mais, bom aí é hora de tirar o dinheiro do bolso e comprar um notebook mesmo.
No IDF, foram apresentados alguns modelos de netbooks. Nenhum pareceu muito convincente para quem já tem um notebook que exibe DVD, edita filmes, armazena MP3s e permite o uso de games mais sofisticados. Com o netbook, nada disso será possível. Então para quem eles servirão? A Intel diz que será a porta de entrada para muitos novos usuários, que hoje não podem sonhar em comprar um computador sofisticado. A empresa estima que eles vão custar a partir de US$ 250.
Novo Classmate é apresentado
A estratégia da Intel para os próximos anos é ampliar, e muito, o número de usuários de computadores no planeta. Quando mais cedo eles entrarem nesse universo, mais chips serão vendidos, claro. E as escolas devem ser a grande porta de entrada. O computador de US$ 100, da ONG One Laptop per Child (Um Computador por Criança) e, por que não, o Netbook, da própria Intel, perseguem esse caminho. A gigante fabricante de processadores tem ainda outro produto à venda: o Classmate PC, lançado no IDF em sua segunda geração.
As mudanças desse segundo modelo são cosméticas. O Classmate PC vem com uma tela de 9 polegadas (2 a mais que o primeiro), uma câmera embutida, usa processador Celeron M de 900 MHz, com conectividade Wi-Fi (802.11b/g), bateria de seis células (mais durável), 512 Mb de memória RAM e disco rígido de 30 gigabytes. Parece um brinquedinho de criança, daqueles que podem cair no chão sem quebrar. Na apresentação no IDF, fizeram exatamente isso. ‘Acidentalmente’ derrubaram o notebook de uma mesa e ele continuou funcionando. Também tem a promessa de ser resistente à água.
A máquina pode funcionar em redes sem fio (wireless) e rodará tanto Windows XP como Linux. Nessa segunda versão, a entrada para cartão de memória está ao lado, e não escondida na parte traseira. A idéia é estimular esse uso para que professores ou alunos, por exemplo, armazenem seus próprios dados, levem seus programas educacionais, lições de casa, músicas… Seu teclado é pequeno, mas estamos falando de notebook para crianças de 8 a 14 anos, seu público-alvo.
Já é esperado que a Intel apresente, em alguns meses, uma terceira geração do Classmate PC, substituindo o processador Celeron M por alguma versão do novo Atom. Enquanto isso, os usuários dessa segunda geração vão ter de desembolsar entre US$ 400 e US$ 600. Façamos a conta em reais: numa sala de 30 alunos, seriam necessários mais de R$ 20 mil para atender a todos. Alguma secretaria de educação brasileira estaria disposta a assumir os custos? Um pai ou uma mãe compraria uma máquina dessas? Apesar das dificuldades de mercado, a Intel continua firme no seguinte propósito: fazer com que o primeiro usuário de hoje seja o grande consumidor do futuro. Alguém já ouviu esse tipo de evangelização antes?
Empresa exibe novidades em todos os tamanhos
Na entrada do Intel Developer Forum (IDF), havia um grande banner com a inscrição ‘do miliwatts ao petaflops’. Isso espantaria 99,9% das pessoas para quilômetros de distância do local. Só que a reunião em Xangai foi o encontro entre grupos de pesquisa da companhia e pesquisadores de software e hardware envolvidos com processadores.
Miliwatts se referem aos chips como o Atom, minúsculos e econômicos de energia. Já petaflops (um quatrilhão de cálculos por segundo) é o outro extremo do mundo digital, dos computadores de alta capacidade, que em algum dia no futuro vão chegar à vida real.
Ao mirar na computação de alta performance, os petaflops da Intel querem competir com empresas como a IBM, que detém hoje o mais rápido supercomputador do mundo, o IBM Blue Gene/P. Hoje aplicações que rodam em petaflops são usadas em programas espaciais, na medicina de alta precisão e em laboratórios científicos.
Num nível mais próximo do consumidor doméstico, a Intel surge com o processador Tukwila, um monstro de 2 bilhões de transistores com quatro núcleos e 30 megabytes de cache, que está previsto para o fim deste ano.
Outra prévia do que está por vir é o multiprocessador Dunnington, um chip de seis núcleos de processamento (six core); o Nehalem, um chip de 45 nanômetros que pode trabalhar com até oito núcleos em computação paralela; e o Larrabee que usa muitos núcleos para aplicações visuais.
Os núcleos do Nehalem funcionam paralelamente. Hoje, se um usuário quiser editar um vídeo, leva um bocado de tempo. Com a computação paralela, é como se esse mesmo vídeo pudesse ser fatiado e editado por mais de um computador simultaneamente. A idéia é aproveitar melhor o uso do controlador de memória. Já o Larrabee é um processador gráfico que só chega, segundo o plano estratégico da Intel, em 2009 ou 2010. A idéia é melhorar as aplicações gráficas e vídeos.
Pára por aí? Não, em 2009 a Intel promete entregar os primeiros chips de 32 nanômetros. Essa miniaturização pretende ao mesmo tempo melhorar a performance, reduzir significativamente o gasto energético e diminuir o tamanho. Técnicos da Intel acreditam que no futuro ainda se possa chegar a 8 milímetros. Meu computador, seus dias estão contados.
Repórter viajou a convite da Intel