Publicada em 22 de maio de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
ULSAN – Os dirigentes do Hotel Hyundai vão fazer de tudo para esconder da
seleção brasileira uma preocupação que os atormenta desde que a CBF optou
pela Coréia para os jogos da primeira fase. Afinal, quem vai pagar a conta
pelas despesas extras feitas para acomodar o time brasileiro? A prefeitura
de Ulsan garante que não será ela, pois seu contrato prevê arcar com
hospedagem e quatro refeições diárias. Nada mais. Para os gastos adicionais,
ela aconselhou que o hotel cobrasse da CBF. O hotel cobrou mais de uma vez,
mas nunca obteve resposta.
Seo Seung Youn, diretor do hotel, mostra o salão que se transformará em
restaurante e em área de lazer exclusiva para os brasileiros. Ali, serão
instalados fliperamas, videokê, jogos eletrônicos da Playstation, aparelhos
de DVD e multimídia. Os atletas e a comissão técnica ficarão alojados nos
11.º e 12.º andares do prédio e ninguém terá acesso a eles sem a autorização
da CBF.
Todas as adaptações e compras de novos equipamentos custarão quase US$ 30
mil para o hotel. No total, a prefeitura pagará US$ 480 mil ao hotel. Kim
Sun-jo, diretor da Divisão da Copa do Mundo de Ulsan, garante que nenhum
tostão a mais será enviado. “Não vamos pagar os gastos extras.” Mais
político, o prefeito Shim Wan-gu diz que se surpreende com essa notícia e
discutirá com o presidente do hotel uma solução para o caso.
Em fevereiro, Shim visitou o Rio para acertar detalhes na recepção dos
brasileiros. Passou por situação embaraçosa ao descobrir só no Brasil que a
CBF não pretende gastar dinheiro com as mordomias que receberá na Coréia.
Além de sistema que prevê quatro seguranças nos elevadores, para barrar
penetras, o hotel reservou os melhores quartos para a seleção.
“O principal pedido da CBF foi com a segurança e a privacidade dos
jogadores. Esta é a nossa maior preocupação neste momento”, diz o diretor
Seo. O hotel tentou contratar uma intérprete de português, mas diante das
despesas extras que já imagina não receber optou por economizar outros US$ 3
mil. Nos últimos dois meses, os cozinheiros vêm treinando para produzir
quatro pratos brasileiros. Os ingredientes que não existem na Coréia, como o
feijão preto, são importados.
Um ônibus, uma van, um pequeno caminhão, um carro com ar-condicionado para
os dirigentes da CBF e outro para a comissão técnica estarão disponíveis
logo no dia da chegada, no domingo. Até o dia 12, quando termina a reserva
do time brasileiro, 127 seguranças trabalharão dentro e fora do hotel para
garantir a tranqüilidade da comitiva.
Apesar de ser um hotel cinco estrelas, os quartos não são espaçosos. Além da
cama, um balcão com a TV e só. Espaço só mesmo para os dirigentes, que
poderão ocupar algumas das suítes com sala de estar, copa, um lavabo e um
toalete com banheira de hidromassagem.
Centro de Treinamento é tímido, mas delegação escapa do trânsito
ULSAN – O Mipo Field não é exatamente o centro de treinamento dos sonhos
para uma seleção tetracampeã. Localizado na Universidade de Ciências de
Ulsan, no alto de um morro, ele é uma espécie de prêmio de consolação para o
time brasileiro, que poderia ter ficado com o bem-estruturado complexo
esportivo da Hyundai, ocupado ontem pelos espanhóis. Os dois gramados estão
recebendo os últimos retoques. Os vestiários mais próximos aos campos são
pequenos e mal devem servir à imprensa brasileira e mundial. Uma estrutura
mais completa fica a 500 metros do local de treinamento.
A vantagem do Mipo Field é que fica próximo ao Hotel Hyundai, onde a
delegação estará hospedada. Assim, livram-se do trânsito pesado em algumas
horas do dia em Ulsan.
O CT ainda tem entrada livre, mas os campos poderão ser facilmente
bloqueados para impedir a passagem de torcedores. “Espero que isso não
aconteça, pois quero vê-los treinar”, afirmou o professor de culinária Choe
Young Ohul. “Será muito emocionante vê-los ali no mesmo campo que já levei
meus alunos para jogar.”
Mas mesmo tendo um grande número de alunos freqüentando a universidade, é
difícil encontrar alguém que esteja entusiasmado com a presença do time
brasileiro a poucos metros da sala de aula. “Gostaria de vê-los, mas tenho
de estudar”, diz o estudante Choe Hajin, de 22 anos. “Não me interessa
muito”, acrescenta a colega Lee Hyung Sung, de 23.
Espanha fica com o melhor local
ULSAN – Melhor localizado e mais prático. Assim é o campo de treinamento que
a seleção da Espanha usará em Ulsan, se comparado ao do Brasil. A primeira
vantagem do local escolhido pelos espanhóis, que nem jogarão na cidade na
Copa (farão só amistosos), é que os campos estão a apenas alguns passos do
prédio onde os jogadores ficarão concentrados, no Clube Hyundai Horangi.
Já para chegar ao seu campo, que fica dentro de uma universidade, a seleção
brasileira terá de usar o ônibus para percorrer dois quilômetros. O
deslocamento não chega a ser um problema, mas apenas um detalhe que poderia
ter sido evitado se a CBF tivesse pensado antes na possibilidade de ficar na
Coréia. Antes do sorteio, a entidade, estava certa de que a seleção ficaria
no Japão.
A Federação Espanhola de Futebol ainda teve um cuidado especial: construiu
um centro de imprensa de fazer inveja. Erguido sobre uma das quadras de
esporte do complexo, o centro tem um amplo salão para entrevistas coletivas,
salas para entrevistas individuais e área com linhas telefônicas e
computadores.
Jogo do Brasil terá claque coreana
ULSAN – Quatro mísseis de defesa aérea, 720 policiais ou soldados do
Exército e 36 atiradores de elite preparados para um eventual ataque
terrorista no Estádio de Munsu. Os coreanos levam ao pé da letra o velho
ditado que diz que prevenir é melhor que remediar, mesmo em se tratando de
Copa do Mundo.
Dois mísseis Hawk, de fabricação coreana, serão instalados afastados do
estádio. O armamento controlado por radar pode percorrer até 24 quilômetros
antes de atingir seu alvo. Já os dois mísseis Mistral, de menor alcance,
ficarão num raio de 3 quilômetros de distância. Instrumento de uso portátil,
ele é capaz de destruir aviões suicidas. Caso aeronaves não-identificadas
sobrevoem nas redondezas do Munsu Stadium, elas serão abatidas.
Na estréia do Brasil, no dia 3, haverá um número maior de policiais, já que
são esperadas mais pessoas. Os torcedores brasileiros que forem assistir ao
jogo serão recepcionados com uma revista mais completa na entrada do
estádio. Dentro, estarão sendo vigiados por dezenas de câmeras. Nenhum
objeto maior que um guarda-chuva poderá passar pelo portão de entrada.
A prefeitura de Ulsan sabe que esse aumento na segurança representa uma
torcida mais fria e já ofereceu um consolo. Foram contratados 500
voluntários que torcerão como se fossem brasileiros. Ou melhor, tentarão, já
que ainda dependem de ensaio para aprender como um torcedor latino-americano
gosta de vibrar por seu time.
Há alguns meses, cada voluntário coreano fez uma escolha pela internet para
qual time gostaria de torcer. No dia do jogo, eles vestirão uma camisa
estilizada do Brasil e levarão bandeiras com pequenos apitos sob sua haste.
Serão ainda os responsáveis pela batucada com os únicos três bumbos que
poderão entrar na arquibancada.