Festa termina no McDonald’s

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Publicada em 4 de junho de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
ULSAN – Das duas, uma: ou o torcedor desaprendeu a vibrar pela seleção
brasileira ou esta Copa do Mundo vai ser eternamente lembrada como a mais
fria de todas. Ok, foi só o primeiro jogo e o placar de 2 a 1 deixou os fãs
do futebol apreensivos. Mas a comemoração da vitória na estréia não
precisava terminar num McDonald’s. Ao sabor de Big Mac, muitos tiveram de se
contentar em comer e ir embora. Sem samba, sem alegria, sem nada.
“A festa vai ser nos Lençóis Paulista”, ironizou a publicitária Monica
Melito, de 28 anos, sentada na frente do fast-food por volta das 22h30 em
Ulsan. A paulistana ficou inconformada em saber que seu consolo, depois de
vivenciar 90 minutos de sufoco, seria voltar ao hotel e dormir – em lençóis
coreanos.
“No estádio, disseram que haveria batucada por aqui, mas não deu em nada.
Como estava com fome, entrei”, disse Miguel Castellanos, de 39 anos, um
brasileiro radicado nos Estados Unidos. Em sua 5.ª Copa do Mundo, ele havia
trazido um instrumento para participar do samba da vitória. Em vão. Outra
festa brasileira programada, no Hotel Taehwa, durou menos de meia hora.
Gerente da agência do Banco do Brasil montada provisoriamente em Ulsan, José
Jorge da Costa ficou frustrado com a falta de uma comemoração
verde-e-amarela. “Quando o Brasil ganha, a gente comemora em qualquer lugar,
até no Mc Donald’s”, brincou. “Mas a gente espera fazer uma grande festa em
Yokohama, na final.” Na verdade, o ponto de encontro para a comemoração
seria a churrascaria Boi Vermelho, inaugurada no domingo por brasileiros que
trabalham no Japão e querem investir na Coréia. “Ainda não temos estrutura
para cozinhar para tanta gente”, desculpava-se Dirce Miguel Aoki, de 50
anos. No restaurante, os torcedores tiveram de se consolar com cerveja,
frango a passarinho e batata frita. Muitos preferiram ir embora mais cedo.
Frustração – A antifesta brasileira na Coréia começou já na saída da
partida. Uns poucos gatos pingados ainda permaneciam na praça na frente do
estádio trinta minutos depois do fim do jogo. Tão logo as televisões
desligavam seus holofotes, os torcedores se dispersavam, as batucadas
paravam e só restavam coreanos apressados em tirar fotos ao lado de
brasileiros. “Nossa, não consigo parar de posar para eles”, disse a
comissária de bordo Vanessa Venâncio , de 27 anos. Vestida numa fantasia de
índia com penas verdes e amarelas, para os orientais ela parecia ter vindo
de outro planeta.
Emocionadas por terem assistido a uma partida da seleção, as estudantes
Patrícia Kirita Doi, de 24 anos, e Fabíola Mendonça da Silva, de 25,
bolsistas no Japão, não viam a hora de comemorar. “Temos até as 2h30, quando
sai o nosso último ônibus para o hotel”, disse Fabíola.

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