Empresas e ONGs têm forte ação

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Publicada em 4 de fevereiro de 2009
O Estado de S. Paulo

Eduardo Nunomura
O vizinho que ninguém quer, Paraisópolis cresceu assim: ignorada pelo poder público, inchada pela expulsão de pobres de outras regiões e refém dos conflitos que perpetuavam a sua condição de favela. Dos primeiros invasores nos anos 1960 até hoje, quando está em curso um projeto de urbanização de R$ 300 milhões, a favela que está virando bairro ainda se ressente de estar à margem de São Paulo. “Paraisópolis e Morumbi dependem um do outro e apesar de termos uma relação tão próxima estamos tão distantes”, critica Gilson Rodrigues, presidente da união de moradores e do comércio.
Essa relação primo pobre-primo rico dita os rumos dos problemas e soluções de Paraisópolis. Com estimados 80 mil moradores, a favela é fornecedora de mão-de-obra para prédios e condomínios de luxo do Morumbi. São faxineiros, porteiros, zeladores, seguranças, jardineiros, encanadores, eletricistas, babás e diaristas. Segundo pesquisa ainda não-finalizada pela Universidade de São Paulo (USP) com cerca de 600 moradores, a maioria não tem carteira assinada e quer mudar de emprego, mas reconhece que antes precisa melhorar a sua qualificação profissional.
Nos anos 80, migrações de nordestinos adensaram a favela, que foi se expandindo para os lados – hoje ocupa 800 mil metros quadrados – e para cima, na forma de puxadinhos verticais. De cada dez moradores, sete são nordestinos – seis são baianos. Mas foi um crescimento que ocorreu também por conta das pressões imobiliárias em outras regiões. Com a remoção da Favela Água Espraiada, que deu lugar a um centro comercial de Primeiro Mundo, muitos tiveram de se mudar para Paraisópolis.
O que torna Paraisópolis uma exceção nas 1.600 favelas paulistanas é que ela foi adotada por organizações do terceiro setor e empresas da região do Morumbi. O Fórum Multientidades reúne as mais ativas, 32 delas. Mas, no total, são 60, que prestam serviços sociais cabíveis ao poder público. O mais notável exemplo é o Programa Einstein na Comunidade, desenvolvido há dez anos pelo Hospital Israelita Alberto Einstein. Ele oferece atendimento médico às crianças da favela.
Mas há outros projetos tocados pelas organizações não-governamentais, ligados a educação, cultura, creche, alfabetização, capacitação profissional e cursinho universitário. A Prefeitura e o Estado oferecem oito escolas, mas isso ainda é insuficiente para atender as mais de 22 mil crianças de 0 a 10 anos. Dessas, 5 mil não têm creche ou escolas para atendê-las.
Por causa do muro invisível erguido entre Paraisópolis e Morumbi, os moradores da favela criaram formas de subsistir por conta própria. Hoje, são 5 mil estabelecimentos comerciais, de todos os portes, incluindo uma Casas Bahia inaugurada no fim do ano passado. Há de tudo: material de construção, bares e restaurantes, mercados, confecções, videolocadoras, lan houses, móveis. De cada dez moradores, dois trabalham na favela.

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