Efeito Copa aquece economia coreana

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Publicada em 24 de maio de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
ULSAN – Os coreanos estão ansiosos por repetir a façanha dos franceses no
último mundial. Não exatamente conquistar a Copa do Mundo, mas ver seus
negócios crescerem tanto ou até mais do que ocorreu na França em 1998. Os
setores de aparelhos eletrônicos, aviação e aluguel de carro devem ser os
maiores beneficiados com o “efeito Copa”.
As lojas de eletrodomésticos já constataram que as vendas de aparelhos de TV
triplicaram desde o início do ano, comparadas com o mesmo período de 2001.
As companhias aéreas Korean Air e Asiana Airline tiveram um aumento de 10%
nas reservas, com uma taxa de ocupação de 90% prevista para junho. Neste
mês, as companhias de aluguéis de carro registraram a locação de 85% de sua
frota, quando o índice normal é de 40%.
Segundo o gerente de Assuntos Corporativos da Samsung em Seul, James Chung,
os coreanos estão comprando muitas TVs digitais, tecnologia americana que
foi introduzida em novembro do ano passado. “Provavelmente, por causa da
Copa do Mundo, eles estão aproveitando para substituir seus aparelhos
antigos.” A previsão dos empresários de eletroeletrônicos é que a tecnologia
digital já esteja amplamente difundida até 2005.
Para suprir a demanda, a Samsung aumentou em 30% a produção de TVs para este
ano. A empresa vende cerca de 14 milhões de aparelhos por ano no mundo todo
e 1 milhão no mercado doméstico. Já a LG Electronics espera que a venda
aumente 40% em 2002, sobretudo por causa da Copa. Por ano, a indústria
produz cerca de 2 milhões de aparelhos para os coreanos.
Os pequenos empresários também esperam aquecer as vendas. No Hyundai
Department Store, o shopping center que fica na frente da concentração
brasileira, o comerciante Seo Kwang-yul ficou animado ao ser informado que
em 1994 os brasileiros foram ferozes compradores desses aparelhos. “Avise
aos jogadores que eles poderão fazer bons negócios aqui.”
Em Ulsan, duas lojas Nike apostam em um crescimento de 50% nas vendas se o
Brasil der um show de bola na Coréia. Kang Kong-in, gerente da Ulsan Sports,
estava feliz por ter vendido 10 camisas oficiais do Brasil em duas semanas.
Além do Brasil, a Nike também fornece uniformes para Coréia e Portugal.
O “efeito Copa” depende também do sucesso da seleção coreana. Uma pesquisa
feita com operadores da Bolsa de Valores de Seul indicou que 48% deles
acreditam que se a Coréia passar para as oitavas-de-final o mercado estará
mais otimista com a economia do país. Basicamente, os patrocinadores do
mundial seriam os maiores beneficiados.
Em 1994, a França viu as ações na Bolsa de Valores subirem 7,7% no mês
anterior à Copa. Os Estados Unidos e a Itália constataram um incremento de
2,0% e 7,8%, respectivamente, no mesmo período. A diferença do sucesso dos
franceses é que depois da Copa não ocorreu o fenômeno da desvalorização das
ações como ocorreu nos Estados Unidos, quando a Bolsa de Nova York caiu
3,5%.
Depois de 1997, quando a crise econômica mundial atingiu de forma dramática
a Coréia, o país só viu o seu Produto Interno Bruto crescer sem parar. Neste
primeiro quadrimestre, o aumento do PIB foi de 5,7% em relação a 2001.
Segundo o Korea Development Institute, a Copa do Mundo represente US$ 9,2
bilhões em lucros e crie 351 mil empregos. A prefeitura de Ulsan acredita
que o consumo na cidade crescerá em US$ 300 milhões com o mundial.
O otimismo, contudo, está mais no plano teórico do que no prático. O setor
hoteleiro, por exemplo, sofreu um grande choque quando a britânica Byrom, a
agência oficial de acomodações da Fifa, cancelou cerca de 70% das reservas
que havia feito.
Em setembro do ano passado, a agência reservou quase 800 mil quartos em 217
hotéis. Em Seul, as reservas diminuíram de 334.670 para 147.097 e em Ulsan,
de 76.404 para 13.498.
O problema é que nem todos os coreanos estão entusiasmados por dividir a
sede da Copa com o Japão, fazendo com que a economia interna cresça menos
que as expectativas. Será então que o “efeito Copa” permitirá à economia
coreana crescer vertiginosamente? A resposta começará a ser respondida tão
logo França e Senegal dêem o tão esperado pontapé.

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