Classe média tem milhões de ‘ricos’ em todo o País

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Publicada em 6 de abril de 2001
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Para estar entre os mais ricos no Brasil, basta pertencer à classe média.
Nada de caviar, nem passeios de iate e muito menos jogar pólo nos fins de
semana. Milhões de brasileiros, que estão entre os 10% mais ricos, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trabalham muito, vão
à feira e ao supermercado, cuidam dos filhos e têm de fazer as contas todo
fim do mês para não ficar no cheque especial.
Segundo o IBGE, apenas um em cada dez brasileiros recebe acima de R$
2.397,07 por mês. Não é uma fortuna, mas o suficiente para enquadrá-los
entre os mais bem remunerados. “Acho isso um absurdo, com meus rendimentos
não posso ser considerado bem de vida”, afirma o corretor de imóveis José
Vicente Pinto dos Santos, de 43 anos. Autônomo, ele trabalha 8 horas por dia
e se dá “ao luxo” de descansar nos fins de semana. “Sou classe média, média.
Não tenho quadros valiosos, carro importado, nem jóias guardadas”, explica.
Para se divertir, vai ao cinema ou a um passeio na casa de praia, do pai.
“Não me considero uma pessoa rica. Acho que existem os nascidos ricos,
filhos de banqueiros, empresários. Não é o meu caso”, afirma a psicóloga
Simone Maya Atala, de 33 anos. Com curso de mestrado, ela credita seus
ganhos mensais ao esforço de anos de estudo. “Sou só uma profissional jovem
que se dedica ao que faz. Me assusta saber que estou entre os 10% mais
ricos.” Com o que ganha, ela pode planejar suas viagens de férias, comer em
casa ou no restaurante, fazer umas compras e só.
Distância – O que surpreende as pessoas enquadradas como “ricas” não é o
fato de não considerarem que ganham muito, mas saber que muitos recebem tão
pouco. “Há uma disparidade muito grande entre os que ganham R$ 300 e aqueles
que recebem R$ 3 mil”, diz o empresário Adauto Corsari, de 30 anos. Morador
de um apartamento de um dormitório, ele afirma que tem a sorte de não ficar
controlando a conta corrente. Freqüenta academia de ginástica, vai ao cinema
regularmente, come em restaurantes duas ou três vezes por semana, compra
muitos CDs e, quando pode, viaja para a Europa. “Ainda assim tem muita coisa
que eu gostaria de fazer, mas meu orçamento não permite.”

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