Brasil assume no Haiti sem tropa completa

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Publicada em 2 de junho de 2004
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
PORTO PRÍNCIPE – O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira assumiu ontem a
Força Multilateral Provisória no Haiti, na primeira missão de paz da
Organização das Nações Unidas (ONU) sob direção do Brasil. Apesar da
cerimônia de troca de comando, as tropas que estão no país não partirão
agora e o general Heleno ainda não sabe quantos soldados de fato terá na
Missão de Estabilização (Minustah).
Nos últimos três meses, a segurança do Haiti ficou a cargo da Força
Multilateral Provisória com 3 mil soldados americanos, canadenses, franceses
e chilenos. Ontem, o general Heleno disse não saber se as tropas
internacionais chegarão antes do dia 20, quando americanos e franceses
partirão, e admitiu estar preocupado com a incerteza sobre o número de
soldados que terá.
Ele explicou que espera pelo menos 3 mil homens, pois considera que um
contingente menor pode comprometer a eficácia da força de paz. “Com menos
que isso, pelo tamanho do país, vamos diminuir a nossa presença, que é
fundamental para esse tipo de trabalho.”
O país tenta retomar suas atividades, após a deposição do presidente
Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro, quando o país ficou à beira da guerra
civil, e a inundação que há poucos dias atingiu mais de 10 mil pessoas em
cidades do norte. As tropas da Força Multilateral Provisória partirão com
alguns feitos, como a reabertura do comércio e das escolas e igrejas, mas
deixarão tarefa dificílima para a Minustah: desarmar milhares de haitianos.
Há estimativas de que entre 25 mil e 35 mil pessoas estejam armadas.
No discurso de troca de comando, o general Heleno disse que uma das
primeiras tarefas da Minustah será o desarmamento físico e de espírito do
povo haitiano. Para ele, é uma questão-chave, pois o esforço pela
estabilização do país só terá êxito com a presença maciça das forças de paz.
A ONU prevê que nos próximos seis meses, tempo mínimo de atuação da força, o
número de soldados estrangeiros chegue a 6.700.
Críticas – A cerimônia de troca de comando teve a presença do presidente
Boniface Alexandre, do primeiro-ministro Gérard Latortue, do comandante da
força multilateral, general Coleman, de representante da ONU e dos
embaixadores do Brasil, Armando Vitor Poisson Cardoso, e dos EUA, James
Foley. Alexandre e Latortue fizeram duras críticas a Aristide.
Alexandre assumiu depois da queda de Aristide, por ser chefe da Suprema
Corte. Ele criticou os falsos profetas, numa alusão a Aristide, disse que no
seu governo o país viveu grave crise social e de segurança, e agradeceu a
força multilateral e a chegada da Minustah: “Vocês também podem contar com o
povo haitiano nos momentos mais difíceis.” Latortue, ex-diplomata da ONU que
em março chegou a ser salvo por soldados americanos quando rebeldes
pró-Aristide queriam tirá-lo do poder, criticou o ex-presidente e disse que
o país deve agora caminhar para as eleições livres – que ainda não tem data
para ocorrer. Ele disse que uma das tarefas é devolver o sentimento de
segurança à população.
Cardoso acredita que a situação do país está mais tranqüila agora, em
comparação com os conflitos do fim do governo Aristide. Foley disse que a
saída dos soldados não vai mudar nem diminuir o papel dos EUA no Haiti, que
continua sendo uma preocupação de seu país. “Inclusive vamos fazer parte da
polícia da ONU e acabamos de anunciar ajuda assistencial de mais de US$ 100
milhões.”

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