Abrir os olhos é moda na Coréia

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Publicada em 6 de junho de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
DAEGU, Coréia do Sul – Quando dá uma charmosa piscada, Cho exibe mais do que
o expressivo olhar de uma coreana de 20 anos. Ela mostra também o resultado
de uma bem-sucedida operação de 1,5 milhão de wons (R$ 3.000) nas pálpebras,
que lhe deu um rosto mais parecido com o de uma mulher ocidental. “É só um
jeito de me deixar mais feliz com meu estilo oriental”, garante a jovem.
Cho, que não quis dizer o seu primeiro nome, faz parte dos 13% de coreanos
que já sucumbiram ao bisturi. As operações para fins estéticos predominam,
sobretudo as de olhos e as de remoção de rugas. Nos Estados Unidos, onde
menos 3% da população opta pelas cirurgias plásticas, as preferidas são a
lipoaspiração e a de aumento dos seios.
Na Coréia do Sul, onde há mais de mil especialistas nessa área, beleza é um
item que cada vez mais se põe na mesa. “Basicamente, as pessoas querem
aumentar a impressão de que têm olhos ocidentais”, diz o cirurgião-plástico
Byun Jin-Suk, que realiza duas operações estéticas por dia em sua clínica.
Segundo um levantamento recente, de cada dez coreanos, seis gostariam de
fazer algum tipo de plástica. A popularidade desse tipo de procedimento
médico é tão grande que, no ano passado, uma rede de postos de gasolina de
Seul realizou a campanha “Os sonhos que se tornam realidade”, na qual os
clientes concorriam a uma cirurgia plástica.
Um cirurgião-plástico de Seul descobriu que de 200 apresentadores de TV,
cantores e atores famosos da atualidade, 77 deles já haviam alterado
artificialmente sua aparência.
Hoje, os médicos da beleza oferecem opções para todos os gostos. Para mudar
a aparência, basta pagar. Uma redução nas rugas da testa custa 4 milhões de
wons (R$ 8.000); uma remodelagem dos lábios, 1 milhão de won; o aumento dos
seios, 5 milhões de wons; e uma lipoaspiração, 3 milhões de wons.
Mas não é apenas no bisturi que as mulheres coreanas tentam ganhar rostos
mais ocidentais. Nas lojas de produtos de beleza, é bastante popular a Eye
Charm, uma fita de 1.000 wons (R$ 2) que cria a famosa dobrinha nos olhos
das mulheres. Novas lentes de contato permitem que as orientais fiquem com
olhos mais abertos.
Coreanos e coreanas são tão vaidosos quanto qualquer outro povo do planeta,
só que têm preocupações diferentes. “As ocidentais podem optar por uma
pintura mais leve porque seus traços já são mais definidos. Os traços das
orientais são mais discretos e é preciso reforçar a maquiagem”, explica Lee
Youn-Hee, a gerente da clínica Song Jook, a mais famosa de Daegu.
No Japão, é muito comum ver jovens com seus cabelos pintados nas mais
variadas cores. Só no ano passado essa moda ganhou força na Coréia do Sul,
quando todos os integrantes de um famoso grupo de música apareceram de
cabelos tingidos. “Até o colegial, os homens não podem usar pinturas. Só
depois é que são mais livres e começam a variar a cor”, explica o
cabeleireiro Choi Byung-Lim.
Para as mulheres, tinturas são mais comuns. “Gosto de ficar na frente do
espelho e é por isso que quero estar sempre bonita”, diz a comerciante Lee
Soon-Ae, de 38 anos. Mulheres de sua geração viveram duas fases distintas:
antes, quando não havia a preocupação com a beleza; e hoje, quando a
estética faz parte do dia-a-dia. “Sempre que me arrumo, me sinto melhor,
mais disposta”, explica Soon-Ae, que gasta cerca de 100 mil wons mensalmente
no salão Song Jook.
A maquiagem, ela faz na sua própria casa, ao seu estilo. “Estou muito
exagerada?”

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