Publicada em 24 de setembro de 2006
O Estado de S. Paulo
Eduardo Nunomura
Ele tem meio século de estrada política, mas seus assessores têm suado muito
nesta campanha para acompanhar o que eles chamam de “um menino de 25 anos”.
É como se estivessem diante de “Zé do Sarney”, aquele rapazola que em 1955
foi eleito pela primeira vez para o Congresso. Até os adversários comentam
sua disposição. Comício à meia-noite, quatro cidades num único dia,
sobe-e-desce de jatinho, caminhada de três horas, reuniões para centenas de
eleitores, café da manhã com lideranças políticas – esta tem sido a rotina
desse senador de 76 anos, ex-presidente da República, nas últimas semanas.
Imortal na Academia Brasileira de Letras, José Sarney corre o risco de
experimentar nesta eleição um sentimento bem mortal: o gosto da derrota. Por
enquanto, lidera as pesquisas, mas a cada nova rodada se vê obrigado a
intensificar as atividades de campanha. A explicação se chama Cristina
Almeida, uma socialista do PSB de 40 anos.
“Em nenhum momento me senti ameaçado. Pesquisas diárias, o tracking, me dão
mais de 20 pontos de vantagem”, desconversa Sarney. Pelo sim, pelo não, tem
feito campanha dia e noite. Quer provar aos eleitores amapaenses que é da
terra, que da terra é quem faz por ela, não só quem nasce. Todos sabem que
Sarney é maranhense e desta vez ser forasteiro no Amapá virou discussão
acirrada. Cristina Almeida tem batido nessa tecla. O atual senador rebate,
lembrando que “o gaúcho Getúlio Vargas foi eleito senador por São Paulo e o
mineiro Juscelino Kubitschek, por Goiás”.
Nos comícios ou no horário eleitoral, Sarney diz que levou energia, estradas
e educação. Com ele de novo no Senado, pode fortalecer a universidade e
terminar de asfaltar a rodovia BR-156. Faz questão de frisar que o único
ex-presidente da República com cadeira no Senado será do Amapá, se for
reeleito. “O resto é só de ex-governadores e ex-ministros”, tem dito o
peemedebista nos palanques.
Seu currículo político é laudatório: foi suplente de deputado federal pela
UDN, em 1954, eleito em 1957, reeleito em 1962. Três anos depois, José
Ribamar Ferreira de Araújo Costa virou José Sarney de Araújo Costa. Mudança
providencial. Entre 1966 e 1971 foi governador do Maranhão e elegeu-se
senador pela Arena em 1970 e 1978. Neste último período, filiou-se ao PFL e
ao PMDB, quando virou presidente por circunstância, em 1985, com a morte de
Tancredo Neves.
Em 1990, após deixar a Presidência com a inflação mensal na casa dos 80%,
concorreu a uma das três vagas de senador pelo Amapá, que teria sua primeira
votação direta. Era o mais fácil vestibular das urnas, já que nos demais
Estados só havia uma vaga em disputa. O amapaense deu-lhe esse voto de
confiança porque imaginava que um ex-presidente faria muito. Sarney fez
coisas como levar um posto da Rede Sarah Kubitschek de Hospitais e ampliar o
aeroporto internacional. No Senado, ele apresentou nos dois últimos mandatos
23 projetos de lei. Destes, apenas 5 beneficiaram direta e especificamente o
Estado.