Deputado preso em RO deve se reeleger

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Publicada em 27 de setembro de 2006
O Estado de S. Paulo

Eduardo Nunomura
ENVIADO ESPECIAL
PORTO VELHO
Na urna eleitoral, Carlão de Oliveira tem o número 17.140. No Centro de
Correição da Polícia Militar de Rondônia, é o preso número 12. Presidente
afastado da Assembléia Legislativa, José Carlos de Oliveira (PSL) se
considera um preso político e vítima de perseguição de rivais. “Sou um bode
expiatório. Enquanto todos os outros estão fora fazendo campanha, eu não
tenho o mesmo direito”, reclama.
Ele foi detido pela Polícia Federal na Operação Dominó, em 4 de agosto,
acusado de chefiar a quadrilha que desviou mais de R$ 70 milhões da
Assembléia. Pesquisas indicam que Carlão será mais votado de seu partido e
pode conquistar seu quinto mandato de deputado estadual.
Carlão é um caso peculiar na história eleitoral: é político e está preso.
Sua campanha é feita por devotos aliados que não o abandonaram nos mais de
40 dias em que ficou preso na carceragem da PF de Brasília e, desde a
quarta-feira da semana passada, no centro da PM.
Quando foi detido, a PF encontrou em sua casa uma pistola 9 milímetros.
Agora, também enfrenta a acusação de porte ilegal de armas. “Sou parlamentar
e só poderia estar preso se o crime fosse inafiançável”, reage. A arma,
defende-se, era de um vigia da Assembléia que fazia sua segurança
particular. “Ele (o vigia) já admitiu isso em depoimento”, garante.
No centro da PM, o deputado tem a companhia da família. Com ele estão presos
a mulher, o irmão, a cunhada, a irmã e o marido dela. Eles passam o dia
conversando e recebendo visitas de amigos, advogados e militantes. À noite,
homens para um canto, mulheres para outro.
A reportagem do Estado entrou como visitante no centro e conversou com o
deputado ontem à tarde. Vestindo camiseta e bermuda jeans, Carlão está mais
magro. Em Brasília, perdeu quase 25 quilos. “Não me sinto humilhado, nunca
abaixei a cabeça. A força é Deus e o meu povo que está me prestigiando,
porque confia no meu trabalho.” Ele nega todas as acusações. Já se livrou no
Superior Tribunal de Justiça (STJ) da de formação de quadrilha, motivo pelo
qual foi preso. Mas responde ainda por corrupção passiva e porte ilegal de
arma de fogo.
A Operação Dominó foi uma das maiores já feitas pela PF. De uma só vez,
foram presos Carlão, o procurador de Justiça José Carlos Vitachi, o
conselheiro do Tribunal de Contas Edílson de Souza Silva, o presidente do
Tribunal de Justiça, Sebastião Teixeira Chaves, diversos assessores,
parentes e até o ex-candidato a vice na chapa do governador Ivo Cassol,
Carlos Magno Ramos, depois afastado. Um dos esquemas da quadrilha envolvia
uma folha de pagamento paralela de funcionários da Assembléia Legislativa.
Dos 24 deputados estaduais, 23 estariam envolvidos no crime.
Carlão é irônico ao falar da situação e insiste que é “um bode expiatório”
no Estado e no País. “A PF do Lula manda me prender, mas deixa solto o
Delúbio Soares, o Silvinho Pereira, o Marcos Valério, o José Dirceu. Por que
só eu? Por que dois pesos e duas medidas?”
Certo de que terá votos suficientes para se reeleger, já que tem base
eleitoral sólida nos municípios de Alta Floresta, Alto Alegre, Novo
Horizonte, São Francisco e Primavera, ele cobra coerência das autoridades
para fazer campanha. Ontem, uma equipe de marketing foi ao centro da PM de
manhã para gravar depoimento dele. Mas o TJ proibiu seu acesso. “Disseram
que não podem usar um espaço público. E enquanto isso vou fazendo campanha
sem gastar nada”, ironizou. Carlão divide a carceragem com outras 52
pessoas, os 5 de sua família, o ex-secretário da Casa Civil Carlos Magno
Ramos, e o restante dos presos formados de policiais e agentes
penitenciários.
Come o marmitex de arroz, feijão e carne normalmente, vê televisão todos os
dias e não reclama do tratamento que recebe. Até brinca com os policiais que
o vigiam. “Eles têm me tratado com muito respeito, porque sabem que tem
muita coisa política nessa história”, afirmou. COLABOROU
NILTON SALINA, ESPECIAL PARA O ESTADO

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