Publicada em 1 de outubro de 2006
O Estado de S. Paulo
Eduardo Nunomura
ENVIADO ESPECIAL
PORTO VELHO
Indagado sobre corrupção, o técnico Marcio Macedo Coelho, de 28 anos,
interrompe o trabalho e, sem pestanejar, responde: “É um dinheiro para fazer
escola, melhorar um posto de saúde ou construir uma creche, só que acaba nas
mãos dos políticos.” Nessa casa da periferia de Porto Velho, votar ainda é
coisa que vale o esforço de pregar uma faixa do candidato no muro de madeira
de casa, debaixo de um sol de 35 graus. Ele e a mulher, Marina, vão votar no
governador Ivo Cassol (PPS) e no presidente Lula, que, segundo o Ibope,
devem ser reeleitos. “Essa dinheirama que falam aí era nossa, não era?”
Rondônia realiza hoje a mais simbólica eleição de sua história. É um
microcosmo da corrupção que grassa pelo País. Dependendo do resultado das
urnas, os mais de 980 mil eleitores dirão se ela, a corrupção, faz diferença
na hora de votar. Ainda estão vivas as imagens de parlamentares, juízes,
procuradores e secretário de Estado sendo levados presos e algemados na
Operação Dominó, de agosto, que desbaratou uma quadrilha que desviou R$ 70
milhões.
Nada menos que 23 dos 24 deputados estaduais estão sendo investigados pela
Polícia Federal por um esquema que fraudava licitações e a folha de
pagamentos da Assembléia e promovia aumento para magistrados, procuradores e
promotores. Dois deputados concorrem à Câmara e o restante almeja a
reeleição. Cálculos de políticos estimam que metade pode manter a imunidade
parlamentar. “A corrupção recebeu um duro golpe, mas é preciso controle e
acompanhamento para que ela não ressurja”, diz o superintendente da PF,
Joaquim Mesquita, que chefiou a Operação Dominó.
O deputado estadual Beto do Trento (PSDC) está entre os 23 acusados. A
reportagem acompanhou uma caminhada dele pelo bairro de Três Marias, uma
invasão não recente até hoje com cara de invasão. Empresário do ramo de
supermercados, ele entregava folhetos e pedia com humildade um novo voto de
confiança. Em 2002, foi eleito com cerca de 6 mil votos, tendo como base
eleitoral a capital e três municípios do interior. Agora, conta com outras
18 cidades.
Nesta eleição, Beto do Trento quis inovar. Uma fundação de sua mulher
distribuiu sopão no período noturno por algumas semanas. Quem faturou foi
ele, já que eleitores como Aurene Batista, de 28 anos, mãe de dois filhos,
garantem que votam no deputado por causa dessa ação. “Beto tá envolvido?
Bom, mas aí como vou votar num outro que não conheço, que só vejo na TV.
Este pelo menos conheço a cara.”
O deputado se defende, como tem feito desde as primeiras denúncias. “Se
reeleito, pode até ter uma política do sopão. Às vezes, uma refeição para
essas pessoas faz diferença.” Pelas ruas de Porto Velho, a campanha parece
ignorar tudo o que se passou meses atrás. Na sexta-feira, havia até carreata
para o ex-presidente da Assembléia Carlão de Oliveira (PSL), que está preso,
mas tem grandes chances de ser reeleito.