Ferrovia dificulta até conquista de emprego

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Morar em Perus, Franco da Rocha, Francisco Morato ou Caieiras pode ser sinônimo de desemprego. Nesses locais da periferia de São Paulo ou nesses municípios vizinhos, muitos moradores dependem apenas do sistema ferroviário. Por causa dos atrasos dos trens que já viraram rotina, algumas pessoas estão com seus empregos ameaçados e os desempregados dificilmente conseguem uma colocação no mercado de trabalho se o empregador descobre que eles moram nessas regiões.
Grávida de seis meses, a assistente administrativa Hildete Gomes Bonfim, de 26 anos, disse que não suporta mais ver a população da região como a principal prejudicada pelos atrasos das composições da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). “Meu marido não está conseguindo emprego só porque mora aqui em Perus.” Ontem, após o tumulto na estação, ela desabafou: “Ainda não me mandaram embora porque estou grávida”.
O radialista da Rede Bandeirantes Sandro Rafael, de 23 anos, disse que sua prima não conseguia emprego quando preenchia o endereço correto, Perus. “Ela teve de dar o endereço de outra prima, que mora em Piqueri, para conseguir serviço”, afirmou. “Quando as pessoas que contratam vêem que o interessado é de Caieiras, Perus ou Franco da Rocha, eles dizem que não têm mais a vaga.” Medo — As balconistas Tânia Aparecida de Mendonça, de 20 anos, e Eliane de Jesus Arvelino, de 23, temem pelo emprego. “A dona da loja sempre reclama dos atrasos e diz que é para ir trabalhar de qualquer jeito”, afirmou Tânia. “Eles ameaçam mandar embora e até colocam placas de emprego na porta”, reclamou Eliane. Os atrasos ou os dias de trabalho perdidos são descontados dos salários das duas. Como aconteceu ontem.
A balconista Adriana Batista Simões, de 21 anos, disse que os seus chefes não acreditam que os trens sempre têm problemas de atraso. “O patrão diz apenas que é para acordar mais cedo.” Diariamente, ela acorda às 5 horas para pegar o primeiro trem com destino a Pirituba. Segundo ela, os atrasos na linha Noroeste—Sudeste vêm ocorrendo há três semanas. Simões acha que corre sérios riscos de ser mandada embora: “Sou novata.” O assistente administrativo Afonso Gemignani Filho não costuma viajar nos trens. Ontem, usou o sistema para ir ao Centro. “Os trens são superlotados, demorados e ultrapassados”, disse. “O pessoal que trabalha comigo costuma chegar atrasado porque eles vivem quebrando.” Em meio à confusão, a crítica também era em relação à tarifa. Paulo Eduardo Noronha considera um absurdo o valor da passagem — R$ 1,00 — em comparação com o serviço oferecido. “O Metrô custa o mesmo e não se atrasa.” (Eduardo Nunomura, especial para o Estado, e Fabiana Gitsio)

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