Emprego ajuda futuro gari a reencontrar filha

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Publicada em 28 de fevereiro de 1997
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
José Rocha Santos procurava um emprego, aos 51 anos, e conseguiu: será um dos
varredores do programa de limpeza criado pela Prefeitura para moradores de rua.
Por causa do emprego, Santos ganhou algo ainda melhor: reencontrar sua filha
mais velha.
Um vizinho de Cássia Pereira dos Santos, de 26 anos, mostrou-lhe uma foto do
pai, publicada anteontem pelo Estadoe Jornal da Tarde. Cássia procurou-o e,
ontem pela manhã, os dois reencontraram- se no Centro de Convivência do Brás,
zona leste.
Depois de dois anos sem ver a família, o sergipano Santos rendeu-se aos apelos
de Cássia e decidiu acompanhá- la até a casa onde ela mora com o marido e três
filhos, em Itaquaquecetuba, região leste. Ele já não tinha esperanças de rever
a mulher, os filhos e netos. Orgulhoso, recusava-se a voltar para casa “sem
nada”. Com o emprego garantido, deixou a saudade falar mais alto.
Sítio – Há cinco anos, Santos abandonou a mulher, a mineira Francisca Pereira
dos Santos, de 47 anos. Manteve contato com alguns dos oito filhos até uma
discussão, que o afastou de vez da família. Passou a ter outros planos:
conquistar um emprego, economizar e voltar para Sergipe, onde cuidaria de um
sítio deixado pela mãe, já morta.
Nos dois anos em que ficou afastado, trabalhou como tintureiro, segurança e
pedreiro e fez bicos. Desde janeiro, freqüentava os centros de convivência da
Prefeitura, pois já não conseguia pagar o aluguel de um quarto. Participou até
de duas reuniões para tornar-se um futuro sem-terra, convocado por um padre.
“Procuramos por ele em hospitais e no Instituto-Médico Legal, mas já tínhamos
perdido as esperanças”, disse a filha. Mesmo assim, Francisca guardou todas as
roupas dele. Cássia quer que os pais se reconciliem. “Só não vou levá-lo agora
porque ele tem medo da senhora”, disse à mãe, pelo telefone. A oportunidade de
trabalhar como varredor da empresa Vega Sopave deu novo ânimo a Santos. “Nunca
pedi nada a ninguém, mas ainda posso trabalhar muito. “
Se depender do emprego e da filha, a rotina desse bisneto de índios tupinambás,
que chegou à capital em 1° de janeiro de 1960 num caminhão pau-de-arara, vai
mudar. Cássia quer ver o pai parar de beber. Ele jura que largou o vício: “Vou
fazer de tudo para que ele seja o José Rocha de sempre. “
Da rotina diária de tomar banho e alimentar-se no centro de convivência, Santos
guardará uma gratidão eterna. “Vou comprar uma cesta básica com o primeiro
salário e dar para o centro”. O padre Mariano, que abrigou Santos, resume a
alegria de ver pai e filha juntos: “Histórias como esta são uma de nossas
razões para existir.”

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