Publicada em 24 de janeiro de 1997
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
ELDORADO — Mais de 20 mil pessoas ficaram desabrigadas e pelo menos 20 estão
desaparecidas em conseqüência da chuva nas regiões do Vale do Ribeira, no sul
de São Paulo, e norte do Paraná. Duas mortes foram confirmadas. Muitas cidades
estão ilhadas pelas enchentes causadas pelo transbordamento dos rios da
região.
A cidade de Eldorado, ao sul de São Paulo, foi uma das mais atingidas. Centenas
de casas ficaram submersas e 10 mil dos 18 mil habitantes estão desabrigados. A
cidade está ilhada, com estradas bloqueadas pelas águas e sem contato
telefônico. A Ponte Ribeira do Iguape foi destruída pela força das águas.
Segundo o prefeito de Eldorado, Celso Freitas, duas pessoas que estavam sobre a
ponte estão desaparecidas. Outras 15 pessoas, também sobre a ponte, teriam
conseguido escapar a tempo. O major Antônio Moreira, comandante do 14º Batalhão
da Polícia Militar, em Registro (SP), informou, porém, que há cerca de 20
desaparecidos.
O Rio Ribeira do Iguape nasce em Cerro Azul, no Paraná, e entra em São Paulo
por Itapirapuã Paulista. Cruza as cidades de Itaoca, Ribeira, Iporanga, Sete
Barras e Eldorado, todas atingidas pelas cheias. Em Ribeira, pelo menos 15
pessoas estavam desaparecidas. Apiaí, também na região, encontra-se inundada.
Isoladas — Algumas das cidades ficaram isoladas também por terra. Cerca de 100
metros de extensão da estrada que liga Cerro Azul e Adrianópolis, no Paraná,
foram interditados com a queda de barreiras. Em Iporanga, a ponte sobre o
Ribeira, ligando a cidade a Barra do Turvo, foi atingida pelas águas e foi
interditada.
As chuvas causaram o afundamento da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), em
Barra do Turvo. No km 513, em Cajati, houve queda de barreira no sentido
Paraná— São Paulo, onde o trânsito foi desviado para o acostamento. A Rodovia
Francisco Alves Negrão (SP-258), alternativa da BR- 116, foi interditada em
Itararé.
Oito municípios paranaenses tinham decretado estado de emergência:
Adrianópolis, Jaguariaíva, Pinhais, Jataizinho, Tomazina, Piraí do Sul, Porto
Rico e Porto Figueira. À tarde, cerca de 3.500 pessoas estavam desabrigadas.
(Colaborou Marcia Cola, especial para o Estado)
Mais informações nas págs 3 e 4
Em Itararé, a Rodovia Francisco Alves Negrão (SP-258), que liga São Paulo a
Ponta Grossa e o norte do Paraná, foi interditada. A cabeceira da ponte sobre o
Rio Itararé, na divi sa dos dois estados, foi avariada pe las águas. A rodovia
é uma alternati va à BR-116.
usada como opção de acesso ao sul do país quando há problemas na Rodovia Régis
Bitencourt (BR-116).
Final.
O cadastrador Ismael Oliveira da Silva, de 33 anos, disse que as águas dos rio
subiram “em menos de cinco minutos” na tarde de on tem. Foi nesse momento que
as pessoas teriam desaparecido.
Do alto da cidade as cenas de destruição eram visíveis. Em mui tos pontos,
antenas parabólicas eram o único sinal da existência de casas submersas.
Moradores utilizavam o teto das casas para abrigar os poucos móveis e utensí
lios que conseguiram salvar. As ruas eram extensões do Rio Ribei ra do Iguape e
em algumas delas só eram identificáveis pelos postes de energia.
Algumas pessoas ajudavam no transporte dos moradores por meio de pequenos
barcos e botes in fláveis. O municí pio de Eldorado possui 57 bairros, a
maioria atingida pela inundação. Com o isolamento do centro da cida de, até a
tarde de ontem o prefeito Freitas não sabia a dimensão dos estragos na zona ru
ral.
A banana, principal fonte de ri queza da cidade, foi duramente castigada pelas
chuvas. “As perdas são de quase 100% da bananicul tura”, afirmou Freitas. Na
zona ru ral, extensas áreas foram inunda das. O prejuízo estimado pelo pre
feito é de R$ 5 milhões. Freitas irá solicitar auxílio do governo esta dual
para a recuperação da cida de.
Ao sobrevoar a cidade, o prefei to ficou perplexo. “Caramba, não dá para
acreditar”, lamentou. “É muito triste, perdemos tudo, leva ram a ponte, a água
continua su bindo, o que é isso, meu Deus?”