A rede dos famosos

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Publicada em 23 de setembro de 1998
Veja

Eduardo Nunomura
Desde que começou a funcionar comercialmente no Brasil, há três anos, a Internet teve um avanço extraordinário. Já existem cerca de 2 milhões de brasileiros ligados à rede mundial de computadores, útil para troca de mensagens, compras, negócios, busca de informação e diversão. Encontrar informação na Internet não é muito fácil. Afinal, já existem mais de 300 milhões de páginas disponíveis. Por isso, no mundo inteiro os sites de busca de endereços são os mais visitados. No mês passado, o Yahoo! foi consultado 25,7 milhões de vezes, o Excite, 13,9 milhões e o Lycos, 10,3 milhões. Só no Brasil, o programa de busca Cadê? (www.cade.com.br/) possui 70.000 sites nacionais catalogados. A tarefa de selecionar os sites mais úteis ou interessantes se tornou uma diversão entre os internautas, que guardam seus endereços preferidos como uma agenda preciosa. Desse modo, bisbilhotar a lista de bookmarks, endereços que são memorizados para permitir novo acesso com maior facilidade, oferece um pequeno perfil do seu usuário (veja nos quadros as preferências de algumas personalidades).
O apelo da Internet é tão grande que muita gente a incorporou ao dia-a-dia. É o caso do apresentador de TV Gugu Liberato. Todos os domingos, Gugu recebe cartas eletrônicas e lê as melhores mensagens no programa Domingo Legal. Pela rede, ele acompanha no site do Ibope os índices de audiência de seu show para compará-los aos dos concorrentes. O empresário não utiliza a rede só para trabalho. Durante a semana, ele não desgruda do computador para navegar nas páginas da Internet em busca de notícias internacionais. Um dos endereços virtuais de sua predileção é o da revista americana People, no qual procura sobretudo novidades sobre estrelas da televisão. “Eu encaro a Internet como a grande biblioteca moderna”, diz Gugu. “Ela realmente facilitou minha vida. Pude até retomar contato com amigos que há muito tempo não via.”
Tudo sobre tudo — Há endereços para todos os tipos de gosto e de pessoa. Num de seus sites favoritos, o navegador Amyr Klink chegou a acompanhar um acidente na Antártica com um barco a vela cujo piloto ficou oitenta horas submerso em uma cápsula com temperaturas negativas. “O incrível é que uma embarcação enviou um e-mail avisando que o outro barco havia capotado”, lembra. O náufrago sobreviveu porque usava uma roupa especial resistente ao frio. No mesmo site, Klink descobriu o endereço eletrônico do fabricante e comprou o vestuário para sua próxima aventura, que será a circunavegação do planeta cruzando os pólos.
Aos domingos, o ex-ministro Mailson da Nóbrega costuma ligar seu computador para visitar os jornais New York Times, Wall Street Journal, Financial Times e La Nación. “Tenho acesso hoje a um grande volume de dados que antes demoravam a chegar e eram difíceis de obter”, diz. Com isso, o ex-ministro e hoje consultor financeiro pode ler relatórios e artigos de órgãos como FMI e Banco Mundial e fazer análises ao mesmo tempo que outros economistas do mundo inteiro. “Na minha área, a maior ferramenta de trabalho é a informação”, completa ele.
A cada dia surgem centenas de sites dos mais variados gêneros, que vão de uma simples página pessoal a bancos de dados repletos de textos, sons e imagens. Nessa área é que a Internet se revela mais surpreendente. Na rede, podem surgir coisas inacreditáveis. Informações sobre borboletas (butterfly, em inglês)? Na consulta ao Yahoo!, aparecem 265 sites a respeito do assunto. Algo sobre a Zâmbia? Há 42 991 referências ao país africano. Nessa miríade, às vezes é árduo o trabalho de separar o joio do trigo. É o que fez a cineasta Carla Camurati para produzir o filme La Serva Padrona, baseado na ópera de Giovanni Battista Pergolesi. Durante dias ela se embrenhou na Internet em busca de referências ao autor italiano. Encontrou mais de 2.000. Achou tudo o que procurava, incluindo o libreto original da peça. “Para fazer o filme, não precisei ir à Itália”, diz ela. “Tive acesso a um mundo ao qual as pernas nunca iriam chegar.”
“Depósito de malucos” — O músico e compositor recifense Lenine tem suas próprias definições para explicar o poder da Internet. “Pela primeira vez estamos vivendo num ambiente de anarquia”, diz ele. “Tudo é muito novo. Por intermédio dessa tecnologia, talvez possamos queimar etapas para uma vida melhor.” Foi navegando em um site de ficção científica que Lenine encontrou inspiração para compor a música Marco Marciano, de seu último CD. Outros artistas tiram um proveito diferente da rede. A modelo, atriz e apresentadora de TV Patrícia de Sabrit confessa que testa nela sua popularidade. “Nas salas de bate-papo, às vezes entro de forma anônima só para conferir o meu ibope”, afirma. Já o comediante Bussunda, do Casseta & Planeta, entra em páginas de notícias e humor, assim como nas salas de chat, para garimpar piadas. “Sempre tem alguém com uma idéia”, diz ele. O escritor Paulo Coelho também encontra na Internet inspiração ainda maior que a proporcionada pelos astros. “Ela é utilíssima”, diz.
A Internet conquista até mesmo a simpatia das pessoas mais refratárias ao computador, como o publicitário Washington Olivetto, da W/Brasil. Como parte do fetichismo que povoa a profissão, por muito tempo Olivetto recusou-se a abandonar a máquina de escrever que ganhou aos 18 anos e ceder aos encantos da era do computador. Receava que, com o fim de sua Olivetti, fosse embora a inspiração. “Eu sentia falta do barulho do teclado da máquina”, diz. Hoje, ele já usa o computador e navega pela rede, mas sem perder o espírito crítico. “A Internet continua um depósito de malucos”, diz. “Mas para certas coisas ela é superprática. É um fenômeno irreversível.”

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