Publicada em 14 de outubro de 1998
Veja
Eduardo Nunomura
Três anos foram suficientes para fazer da Internet no Brasil um dos maiores fenômenos mercadológicos de todos os tempos. Nesse período, o número de pessoas que acessam a rede de suas casas e do trabalho cresceu mais de 4.000%. Hoje, são 3,4 milhões de brasileiros utilizando a rede interligada de informações, segundo aponta a terceira edição da pesquisa Cadê?/Ibope. Apenas para comparar: o número de assinantes de TVs pagas dobrou desde 1995, a emissão de passagens aéreas subiu 43%, e o número de usuários de cartões de crédito cresceu 44%. A Internet consolidou-se no Brasil mais rapidamente do que em muitos outros países. Cerca de 3.000 brasileiros aderem à novidade a cada dia. O sucesso estrondoso ainda está restrito às classes A e B da população, mas tem potencial para crescer na mesma velocidade nos próximos anos, atingindo outras camadas sociais. A maior oferta de telefones no mercado, por causa da privatização do setor, e o barateamento dos computadores devem acelerar o ritmo de crescimento da Internet no Brasil.
A terceira pesquisa do Cadê?, primeiro site brasileiro de busca na Internet, em colaboração com o Ibope, é o mais detalhado estudo já feito sobre a rede no país. Durante cinco semanas, cerca de 50.000 internautas preencheram o questionário divulgado em sites brasileiros. Os internautas que responderam à pesquisa foram os primeiros a receber os resultados. Se nos primeiros anos a rede estava restrita a um gueto de infomaníacos, ela começa a se popularizar. A proporção atual é de três mulheres para cada dez internautas. Mais próxima da realidade social brasileira, em que metade da população é feminina, e mais distante dos 17% de mulheres de 1996. Essa melhor distribuição pode ser explicada porque hoje os computadores conectados são encontrados mais facilmente nas escolas e no ambiente de trabalho. Entre os que responderam, quase metade acessa a Internet no ambiente de trabalho, e um quinto nas escolas.
Para o engenheiro Gustavo Viberti, que em 1995 fundou com seu colega de faculdade Fábio de Oliveira a empresa Cadê?, o sucesso da Internet brasileira já aguça o interesse estrangeiro. Os marketeiros da Amazon.com, do bilionário Jeff Bezos, procuraram Viberti e Oliveira no início do ano passado para que os ajudassem a divulgar o site da livraria virtual. Os brasileiros estão em quinto lugar entre os povos que mais compram livros da Amazon.com. A Digital, que possui o site de busca Altavista, foi outra empresa que procurou os empresários brasileiros de olho no mercado nacional. “Aqui, a Internet tornou-se conhecida muito rapidamente. Hoje, seguramente, o Brasil está entre os dez países que mais utilizam a rede”, analisa Viberti. Dados da Associação Brasileira de Provedores de Internet, Abranet, indicam que cerca de 1,3 milhão de pessoas pagam por uma assinatura a um provedor no Brasil para acessar a rede em casa. Os demais internautas navegam em universidades, empresas privadas e órgãos do governo.
Mais informação — A maioria dos internautas brasileiros apontou na pesquisa que estar conectado acarreta mudanças de hábito. Eles deixaram de assistir à televisão, dormem menos e até abandonaram outras atividades. Poucos, porém, deixaram de ler jornais, revistas e livros. Nenhuma surpresa, pois a própria pesquisa mostra que essas pessoas são ávidas por informação. Mais de 75% delas afirmam que navegam na rede para procurar notícias e sites relacionados à informática e Internet. Sexo? Menos da metade declaram passar parte do tempo de conexão procurando páginas de pornografia. Pelo menos de acordo com as respostas dadas aos pesquisadores, a maioria dos internautas prefere sites de notícias, ciência e música quando navega pela rede. Trocar mensagens eletrônicas, via e-mail, e copiar outros programas da rede vêm em segundo lugar. Menos de 10% das pessoas gastam suas horas com as salas de bate-papo, os chats.
Segundo a pesquisa Cadê?/Ibope, 70% dos internautas ficam conectados diariamente mais de uma hora. As empresas já perceberam o potencial da Internet e a mais nova tendência do sistema é o comércio eletrônico. Das 50.000 pessoas que responderam ao Cadê?, 12.000 já compraram algum produto pela rede e outras 24.500 afirmaram que têm interesse em fazer compras virtuais. Mais da metade delas são adultos, possuem cartões de crédito internacional ou nacional, têm escolaridade acima do 2º grau e vivem nas regiões Sudeste e Sul do país.