Páginas do mal

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Publicada em 28 de abril de 1999
Veja

Eduardo Nunomura
Quase sempre vista como educativa e o mais revolucionário instrumento de comunicação deste fim de século, a internet sentou-se no banco dos réus na semana passada. A rede de computadores mais uma vez se viu envolvida num crime. Entre as pistas recolhidas na casa dos estudantes americanos acusados de metralhar colegas numa escola do Colorado (veja reportagem) estava um computador. Nele, a polícia procura provas que permitam solucionar o terrível tiroteio. Os investigadores descobriram uma página na internet, supostamente atribuída aos estudantes, em que se fazia pregação de violência e ódio racial. Na página, os assassinos afirmavam que produzir bombas era simples e que o material para fabricá-las era tão fácil de obter quanto comprar um CD. E é mesmo.
Milhares de páginas da rede estão sendo usadas para propagar idéias absurdas. Especialmente preocupantes são aquelas destinadas a ensinar os internautas a praticar o mal. Fórmulas para fabricar bombas caseiras, receitas para produzir drogas, endereços de onde comprá-las, números de cartões de crédito, senhas para acesso gratuito a provedores e técnicas para grampear telefones ou fazer ligações interurbanas mais baratas. Está tudo nos sites da internet. Os sites do mal estão espalhados em provedores do mundo inteiro. Inclusive no Brasil. Em 1996, por exemplo, a polícia brasileira registrou o primeiro caso de ato ilegal pela rede. Um internauta em Pernambuco divulgava pornografia infantil e ensinava a fazer bombas. A polícia entrou em ação e retirou a página do ar. Ainda bem, pois o Instituto de Criminalística provou mais tarde que a receita do explosivo era verdadeira. (Observação: VEJA não vai reproduzir nenhum endereço eletrônico que promova atos ilícitos.)
Segundo o delegado do departamento de comunicação social da Polícia Civil de São Paulo, Mauro Marcelo, especialista em crimes por computador, a cada semana chegam a seu gabinete novos casos de atos ilegais cometidos por internautas brasileiros. “Por enquanto, estamos nos concentrando nos casos de pornografia infantil e crimes de ódio. Nos demais, apenas pedimos aos provedores para retirar a página da rede”, explica. A quantidade de trabalho na mesa dos policiais é imensa. Muitos sites brasileiros são meras traduções do conteúdo de páginas estrangeiras, a maioria em inglês. A apologia às drogas é um dos temas preferidos. Entre as anfetaminas mais divulgadas, o ecstasy ou XTC é o campeão. A droga embala as raves do mundo todo, o que explica a existência de tantos sites com receitas do MDMA (metilenodioximetanfetamina), o composto básico do ecstasy.
Tarefas escolares – A maconha é a droga mais popular na internet. Além dos sites inofensivos de exaltação à planta, outros vendem abertamente o produto. Esses pontos de droga virtuais, que funcionam livremente em países como a Holanda, criam estratégias para se livrar da ação policial. Toda a comercialização é feita por e-mail até que a mercadoria chegue ao comprador. Outros endereços propõem, mais abertamente, a venda da maconha para tratamento de saúde. No Brasil, porém, não há liberação para o uso medicinal dessa planta, e, portanto, quem for pego com ela poderá ser preso. Mas nem só de drogas vivem os sites do mal. Alguns vendem produtos ilegais no país, como algumas bebidas energéticas e substâncias que eliminam os efeitos do uso das drogas. Até o Viagra, remédio utilizado contra a impotência masculina, chegou a ser vendido pela rede antes que começasse a ser fabricado no país.
Na internet, há ainda sites que fornecem senhas de programas ou provedores de acesso – e até números de cartões de crédito, que quase sempre são falsos, pertencem a cartões cancelados e, portanto, acabam não dando muito prejuízo. Sobram ainda páginas com senhas de acesso a programas de computador piratas. Com elas, as cópias piratas podem funcionar como se fossem um produto legal. Outros endereços que promovem a ilegalidade são as páginas que ensinam, detalhadamente, como grampear um telefone ou fazer interurbanos mais baratos. Em geral, por trás dessas sugestões maldosas estão os hackers, jovens que têm extrema facilidade em programar computadores. Outras páginas são mais leves, pois os atos que sugerem nem podem ser considerados crimes. É o caso dos sites que se propõem a fazer tarefas escolares para outros alunos. Por e-mail o aluno envia as questões, faz um depósito bancário e depois recebe o trabalho pronto. Sem que o professor ou os pais saibam disso.

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