carreira para a qual a moça havia marcado um “x” no formulário do vestibular.
A estudante de 24 anos precisou provar ao pai, químico, e à mãe, professora, a
existência do curso universitário de quiropraxia, técnica de massagem para
ajuste da postura desenvolvida no final do século XIX com base em antigos
tratados greco-romanos. Flávia integra a primeira classe de trinta alunos do
curso pioneiro de graduação em quiropraxia, aberto neste ano pela Universidade
Anhembi Morumbi, em São Paulo. Essa é uma das dezenas de novas carreiras
universitárias que começaram a ser oferecidas desde 1996, quando o governo
federal deu maior autonomia às escolas de ensino superior para a criação de
cursos acadêmicos. Apenas nos dois primeiros anos, as quase 900 instituições
brasileiras criaram 39 cursos pioneiros. Há para todos os gostos, de engenharia
de informações a terapias alternativas, como acupuntura, massoterapia, ioga e
alimentação natural.
a faculdade, sobretudo, como a porta de acesso a profissões regulamentadas por
lei. Os novos cursos preparam para atividades que podem ser exercidas sem a
obrigatoriedade de formação superior, como corretagem de imóveis e acupuntura.
A vantagem para quem faz a faculdade é um aprendizado de melhor qualidade do
que aquele encontrado nos cursos livres ou oferecidos pelas entidades de
classe. Isso não apenas forma profissionais mais bem preparados como também
abre portas no mercado de trabalho. Dos 178 pilotos já formados pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), 175 foram
contratados por grandes empresas. O curso de ciências aeronáuticas foi criado
em 1993 em convênio com a Varig, dura três anos e inclui 2.640 horas de aulas
teóricas e 250 de práticas. É mais que o dobro do treinamento teórico exigido
pela legislação para a formação de um piloto. Cursos universitários de
pilotagem já existem em Goiás, Minas Gerais, São Paulo e, desde este ano, no
Rio de Janeiro.
em sintonia com a demanda do mercado de trabalho, cada vez mais exigente em
relação à qualidade da mão-de-obra. A Universidade do Planalto Catarinense
abriu há dois anos o curso de tecnologia da madeira. As madeireiras da região
de Lages, onde se localiza a universidade, sofrem com a escassez de gente
capacitada a trabalhar com madeira para exportação – do corte da árvore ao
transporte do produto. A primeira turma de 25 alunos forma-se neste ano, e os
formandos estão sendo disputados pelas empresas locais. Algumas das novas
carreiras são especializações em cursos tradicionais. É o caso da engenharia
de telecomunicações, que prepara profissionais para um dos setores mais
dinâmicos da economia. No ano passado, a Universidade Bandeirante de São Paulo
criou sua primeira turma, com noventa alunos. “Estamos seguindo os mesmos
passos de países como os Estados Unidos, onde há profissões que ninguém
imagina”, afirma Eduardo Najjar, diretor da Associação Brasileira de Recursos
Humanos. “Lá, é possível encontrar curso superior até para artista plástico
especializado em madeiras. “
diferença é que os estudantes americanos só escolhem a carreira depois de
freqüentar de dois a quatro anos de um curso básico, de formação generalista.
Os brasileiros precisam escolher o ramo especializado já no momento do
vestibular. O risco é a opção por uma área de limites tão estreitos que já
esteja obsoleta na hora do diploma. É o caso do curso de graduação em
webmaster, atualmente nos planos de várias instituições. Webmaster é o
profissional que desenvolve páginas eletrônicas para a internet. Como a tecno
logia é recente e passa por transformações aceleradas, ninguém garante que a
função será a mesma dentro de três ou quatro anos. “Cursos com um perfil de
treinamento específico demais não garantem uma formação adequada a um mercado
de trabalho dinâmico”, adverte Elizabeth Balbachevsky, especialista em
políticas educacionais da Universidade de São Paulo. Em sua opinião, um
estudante que queira dedicar-se às terapias naturais correrá menor risco se
cursar antes fisioterapia ou medicina, deixando a especialização para depois.
O vestibular é uma espécie de aposta na profissão do futuro – e, desse ponto
de vista, só o tempo dirá se investir num modismo foi bom negócio. Aos 20
anos, a carioca Brenda Braz da Silva integra a primeira turma do recém-criado
curso de terapias naturais da Universidade Estácio de Sá, no Rio. As
disciplinas soariam melhor numa festa bicho grilo do que na universidade:
cristais, cromoterapia, reiki, feng shui, do-in, shantala, hipnose e shiatsu.
Preço do curso: 300 reais por mês. “Algumas pessoas dizem que estou maluca e
perdendo meu tempo”, diz a futura acupunturista. “Mas profissões hoje
tradicionais começaram dessa forma. “