40 instituições brasileiras dão início ao seqüenciamento do genoma do café

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Publicada em 11 de fevereiro de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Na semana passada, representantes de 40 instituições de 12 Estados se
reuniram para dar o pontapé inicial na pesquisa do Genoma Café. Importante
fonte de receita para o País e uma das primeiras lembranças que os
estrangeiros têm do Brasil, o café parte agora para a mais badalada das
pesquisas da atualidade, a genômica. “Com essa corrida da biotecnologia, a
busca agora é por conhecimento e não mais pela matéria-prima. Não basta
sermos só um bom produtor”, explica Luiz Gonzaga Esteves Vieira, do
Instituto Agronômico do Paraná.
A produção anual brasileira gira em torno de 30 milhões de sacas de 60
quilos de café beneficiado, o que gera uma receita da ordem de US$ 2
bilhões, conforme a cotação do mercado. Nos anos 20, o café nacional
correspondia a 70% da produção mundial, mas hoje está em torno de 20% a 25%.
Ainda assim, mantém uma estrutura de quase 150 cooperativas e empresas
exportadoras e 1.500 indústrias de torrefação e moagem para dar conta do
parque cafeeiro, com 5,5 bilhões de pés.
Patentes – Essa magnitude explica por que o Brasil é líder mundial em
pesquisas sobre o café. Mas não significa que o País reine absoluto. Os EUA,
por exemplo, já patentearam dois genes envolvidos na maturação e um no teor
da cafeína. Os que resolverem produzir café melhorado, com alteração desses
genes, vão ter de pagar royalties aos americanos. A França também pesquisa o
produto. Alguns arriscam a dizer que ela pretende introduzir um café
melhorado em suas ex-colônias na África.
“Como maior produtor mundial temos de também estar à frente nas pesquisas do
café. Se não fizermos isso, corremos o risco de pagar patentes para outros
países”, diz o engenheiro agrônomo Luiz Eduardo Aranha Camargo, da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São
Paulo. A meta é chegar a 200 mil seqüências de genes do café arábica,
presente em 70% das terras cultivadas com o produto. O seqüenciamento será
feito pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) e uma rede
de 20 laboratórios da Agronomical Environmental Genome.
O seqüenciamento em si é importante, mas os estudos que dele podem sair é
que atraem os pesquisadores. Nos laboratórios, os cientistas vão analisar
resistência da planta à seca, a doenças e aos insetos, assim como a sua
maturação, qualidade e florescimento. Tudo para descobrir os genes que são
expressos nessas situações. No que isso pode resultar? Café mais saboroso,
lucrativo ou produtivo. Ou os três ao mesmo tempo.
Hoje, leva-se em torno de 25 a 30 anos para produzir uma nova variedade de
café. “O genoma não vai resolver tudo, mas vai agregar mais conhecimento ao
sistema de produção”, afirma Vieira. Por se tratar de uma planta perene, o
seqüenciamento deve levar, no máximo, um ano para ser concluído. “Se
fôssemos levar em conta apenas a capacidade das máquinas, estaria pronto em
até quatro meses”, diz Carlos Colombo, do Instituto Agronômico de Campinas.
Mais de cem pesquisadores estão envolvidos no projeto.
Mistério – Um dos maiores mistérios, para cientistas e cafeicultores, é qual
o estímulo que faz o café florescer. Tudo o que se sabe sobre isso é
empírico, quase nada científico. Com o genoma do café, é possível até que
esse segredo possa ser desvendado e o Brasil venha a ter uma planta que se
adapte às estações do ano, não mature na época mais fria ou cresça com vigor
em áreas até agora consideradas impróprias para plantio.
O café é a terceira planta a entrar na linha de produção dos projetos de
genoma no País. Antes dela, foram a cana-de-açúcar e o eucalipto. O programa
é uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp), que já participa do estudo das outras duas plantas e do Genoma
Humano, com o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café,
que reúne os principais institutos que trabalham com o produto. O consórcio
entrará com metade do R$ 1,92 milhão investido. O restante será dividido
entre Fapesp e Cenargen.

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