Investidor brasileiro tenta driblar a crise

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Publicada em 8 de abril de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
BUENOS AIRES – Os empresários brasileiros com negócios na Argentina dizem
estar otimistas. Também afetados pela crise, preferem adaptar-se à nova
realidade. Já decidiram não fazer novos investimentos este ano; contratos
com fornecedores foram refeitos para abaixar custos. Salários tiveram
redução. E, claro, vale torcer para que 2002 passe rápido.
Desde 1994, o empresariado brasileiro investiu mais de US$ 8 bilhões na
Argentina, segundo o Grupo Brasil. A entidade tem 190 associados de empresas
responsáveis por 10 mil empregos – 67% na área industrial. Por causa do
mercado interno debilitado, “não se pode planejar nada”, afirma o presidente
do grupo Elói de Almeida, proprietário da empresa Pluma, de transporte de
passageiros e cargas.
A Pluma atravessa momentos difíceis. Não há mais a invasão de argentinos no
sul do País: o fluxo caiu 70% este ano. Pelo menos 40 empregados foram
dispensados e a frota de ônibus e caminhões diminuiu. A saída é apostar no
fluxo inverso, procurando atrair o brasileiro para o país vizinho. Na área
de cargas, o sonho de Almeida é ver a moeda argentina valendo um real, o que
não está longe de acontecer – sexta-feira, R$ 1 comprava 1,15 peso. “Aí
prevalece a competência e necessidade de cada produto. E nossos caminhões
teriam um fluxo de ida-e-volta”, explica.
Na Argentina, a Fras-le, do Grupo Randon, começou há 12 anos com uma empresa
pequena de pastilhas e lonas de freio. O faturamento, que já chegou a US$ 11
milhões, vem caindo há 4 anos. “O mercado de 2002 já baixou pelo menos 30%”,
informa o diretor Gelson Adami, para quem “neste momento, o importante é não
perdermos a participação no mercado”. Para este ano, a esperança é fechar
com faturamento superior a 10 milhões de pesos.
Sem lucro – O restaurante Cabaña Las Lilas, em Puerto Madero, já visitado
por políticos como Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton, François
Mitterrand e Gerhard Schröder, não escapou ileso. Entre dezembro e janeiro,
a queda no faturamento foi de 35%. Atualmente, a redução está em torno de
20%. Diante da nova situação, o empresário Belarmino Iglesias Filho, que no
Brasil é dono do Rubayat, renegociou prazos menores nos pagamentos: “Estamos
sacrificando as margens e trabalhando sem lucro, mas a hora é de esperar
passar a turbulência”, diz.
Uma das primeiras ações para driblar a crise da Spettus Steak House, outra
churrascaria brasileira, foi reduzir os gastos com mão-de-obra. Os 41
funcionários formaram uma cooperativa e agora repartem os 20% do faturamento
da churrascaria. Os custos foram reduzidos 18% e o trato será mantido mesmo
depois da crise. “Sem isso, já estaríamos fechando”, afirma Julião Konrad,
de 54 anos, ex-caminhoneiro gaúcho que tem uma rede de 12 restaurantes em
capitais do Nordeste, Brasília e Rio.

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