Casas de câmbio recuperam o fôlego

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Publicada em 12 de abril de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
BUENOS AIRES – O Banco Central (BC) argentino já tem pelo menos 20 pedidos
de abertura de novas casas de câmbio no país. Em funcionamento, existem 45.
A atividade, adormecida durante o período da conversibilidade (de março de
1991 a janeiro de 2002), ganhou fôlego.
Cada fila (“cola”) de argentinos que buscam comprar dólares representa
dinheiro para os mercadores da crise. Casas e agências de câmbio apostam na
instabilidade do país para continuar lucrando. Muitas delas, que ficam
concentradas na Calle San Martin e Avenida Corrientes, contrataram mais
empregados e ampliaram a segurança nos últimos meses. Quanto mais o dólar
subir, maiores as chances de ganharem.
“Não é um negócio que vai ficar para sempre”, alerta o português
AlfredoPiano, de 71 anos, com a experiência de 59 anos no mercado cambista,
dono do Banco Piano e considerado o maior atacadista da moeda americana na
Argentina. Ele aposta que a busca por dólares termina em seis meses. A
cotação vai se estabilizar – ele acha que entre 2 e 2,50 pesos. Nesse caso,
diz, só as grandes casas de câmbio e os bancos sobreviverão, por trabalharem
com empresas exportadoras e importadoras.
Uma casa de câmbio ganha dinheiro no chamado “spread”, a diferença entre os
preços de compra e de venda. Ontem, quem estivessem vendendo US$ 100,
receberia 268 pesos. Na compra, os mesmos US$ 100 custavam 278 pesos. Ou
seja: em cada US$ 100, a casa ganhou 10 pesos.
Há algumas semanas, as cotações passaram a ser controladas muito de perto
pelo BC argentino, que determina, assim, a margem de lucro das casas de
câmbio. Algumas, porém, atuam livremente e não são obrigadas a trabalhar sob
ordem do BC. Ontem, o spread delas ficou em 16 pesos para cada US$ 100.
“Quem está definindo o valor do peso são as empresas de comércio exterior e
os bancos que continuam comprando muitos dólares”, explica um gerente de uma
grande casa de câmbio. “E a nossa margem de lucro não é tão grande. O BC
retém até 5% do valor de venda.” Traduzindo: se um dólar é vendido a 2,75
pesos, 5 centavos vão para o governo.
Num país onde as pessoas temem ter as economias retidas e já viram a moeda
perder 13 zeros em 47 anos, é compreensível que o dólar seja objeto de
desejo. Cada vez mais caro.

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