Publicada em 14 de abril de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
BUENOS AIRES – Os economistas do governo argentino gostam de citar o setor
de exportação como um exemplo de que nem tudo é caos no país e há empresas
que podem crescer em meio à crise. Com uma moeda desvalorizada, o raciocínio
é correto, uma vez que os produtos locais se tornaram mais baratos e
competitivos no mercado internacional. Na prática, as empresas exportadoras
enfrentam dificuldades que vão da falta de linhas de crédito ao aumento dos
custos com matéria-prima. Para os empresários, o horizonte não é tão
promissor como dizem os dirigentes.
“Este ano já está perdido e só em 2003 pode haver recuperação nas
exportações”, sentenciou o economista Dante Sica, presidente do Centro de
Estudos Bonaerense. O diagnóstico sombrio parece contraditório ao esperado
superávit do comércio exterior da Argentina. A balança comercial favorável
deve ficar entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões ao longo deste ano. A
previsão é de um leve crescimento das exportações (US$ 27 bilhões) e uma
queda abrupta das importações (entre US$ 15 bilhões e US$ 17 bilhões),
sobretudo de produtos que antes lotavam as prateleiras dos supermercados e
das lojas de roupas.
Apesar de esperada pelo governo com ansiedade, a entrada de divisas em
dólares enfrenta uma série de obstáculos no relato de empresários. “Com a
falta de liquidez no mercado, agora temos de pagar à vista a matéria-prima
que usamos”, reclamou Carlos Giorgi, dono da Karylo, uma indústria de
produtos plásticos, que já exporta para o Brasil, Chile e Uruguai. Antes, a
empresa podia comprar dos fornecedores com prazos de até 90 dias. Hoje, só
se produz quando há dinheiro no caixa.
Fabricante de bisnagas e outras embalagens para a indústria de cosméticos e
de pintura, a Karylo viu aumentar o número de consultas de empresas
estrangeiras nos últimos dias. Mas os negócios ainda não se concretizaram.
“Custa muito sair da conversibilidade (quando um peso valia um dólar) e sair
exportando. Nos últimos anos, éramos competitivos, mas perdemos o mercado
externo porque a moeda se valorizou”, disse Giorgi. A empresa tem 35
empregados.
Nos dez anos da paridade peso-dólar, a indústria Montano Filho, de
autopeças, voltou-se para o mercado interno. Até 2001, só exportava 20% de
seus produtos para os países do Mercosul, Europa e Estados Unidos. A
esperança é de retomar as vendas para o exterior, já que internamente elas
devem cair muito. “Mas a nossa margem não será tão grande como se imagina,
já que com a subida do dólar a matéria-prima teve reajustes altos, alguns de
até 200%”, disse o empresário Geraldo Montano Filho.
“A solução é exportar mais. Temos uma mão-de-obra barata e bons preços. Só
que nos últimos anos o mercado global ficou mais competitivo e há muitos em
outros países fazendo exportações dos mesmos produtos”, acrescentou o
empresário. Com 20 anos e 20 empregados, a empresa é voltada para o mercado
de reposição de maçanetas de veículos. Para este ano, a meta é aumentar a
produção. No entanto, como as vendas internas deverão cair muito, Montano
Filho acredita que fechará o ano com prejuízo.
Os empresários reclamam da falta de apoio do governo à atividade
exportadora. Neste ano, a empresa de reatores de lâmpadas fluorescentes ELT
Argentina reduziu pela metade a produção e não aposta que o incremento das
exportações trará resultados imediatos. “Além de tudo, teremos uma multa,
que são os 5% das retenções (das exportações)”, criticou o diretor Alejandro
Prodan.
As retenções compreendem impostos de 5% a 20% sobre as exportações.