Publicada em 23 de maio de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
ULSAN – Torcedor brasileiro com destino à Coréia, atenção. Primeiro as más notícias. Há pouquíssimos coreanos que sabem
falar bem o inglês. As lojas, placas, sinais de trânsito, bares e restaurantes, quase tudo é escrito só em hangeul, o alfabeto coreano. Os taxistas, sem nenhuma intenção, podem levá-lo a lugares que você nem imagina. Mesmo em Ulsan, onde a seleção brasileira
ficará concentrada, há pessoas que nunca ouviram falar no Brasil. Se a situação lhe parece complicada, ligue para o BBB (Before Babel Brigade). Não se trata de um famigerado programa reality-show na Coréia, mas do serviço de tradução gratuita por telefone.
Criado para atender aos turistas que virão para a Coréia, o projeto já está no ar. É um bom quebra-galho em situações de mergência, como indicar a direção para um taxista ou pedir o remédio certo na farmácia. Ele funciona para 13 idiomas diferentes, incluindo
o português. O curioso desse serviço que por trás do BBB estão coreanos que conhecem o Brasil têm muita satisfação em se
lembrar dos dias que passaram no País. “Espero conhecer muitos brasileiros”, declara a estudante Hanna Youn, de 19 anos. Voluntária do BBB nesta Copa, ela mora hoje em Seul e tem um telefone celular que carrega sempre pronta a atender aos torcedores
perdidos na Coréia. Gabriela, como gosta de ser chamada, aprendeu o português em São Paulo, onde estudou até concluir
o ensino médio no Colégio Mackenzie.
Atualmente, Gabriela cursa o terceiro ano de língua estrangeira, no caso português, da Universi d a d e d e Hankuk, em Seul. Filha de missionários, ela quer aproveitar esse tempo na Coréia para aprender o hangeul, mas assim que puder voltará para o Brasil.
“Como é um país grande, as pessoas são mais relaxadas”, diz a jovem, que morou no Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo.
Durante a Copa, como é voluntária do BBB, está dispensada das aulas na universidade.
O BBB cadastrou nove intérpretes virtuais que entendem o português. A única exigência na contratação dessas pessoas é que
falassem relativamente bem para que qualquer brasileiro possa tirar suas dúvidas em minutos.
“Estou com um bocado de medo”, confessa Yang Yunseun, de 23 anos, da Universidade de Estudos Estrangeiros, em Seul. Ela é a única que fala com sotaque de Portugal, pois já estudou lá por seis meses. Kim Sang-woo, de 43 anos, é outro intérprete virtual. Ele morou 15 anos no Brasil, trabalhando no conhecido setor de confecções, hoje dominado pelos coreanos. Ele conhece muito
bem o bairro do Brás, mas desconhece a própria Coréia. Sobre Ulsan, não sabe nada. Hoje em Seul, ele lembra bem sua infância e adolescência vividas no bairro do Brás. “Informações sobre o Brasil? Ele joga em Ulsan? Onde? Quando?”, responde ao ser testado
pela reportagem.
O formato do serviço é idêntico para todos os idiomas, mas muda o número de intérpretes. Vai desde o inglês, francês, espanhol e italiano até o sueco, japonês, alemão e turco. Basicamente, o turista em apuros liga para o telefone, explica toda a situação e
entrega o aparelho para o coreano à sua frente. Problema resolvido. Especialmente na Coréia, onde nem mesmo os jovens falam
inglês com facilidade, o serviço é um alívio em situações de desespero. Para os milhares de jornalistas que vão cobrir o Mundial, haverá centros de imprensa espalhados pelas cidades. Ulsan, local de estréia do Brasil, criou um serviço de tradução com jovens
estudantes de português em Busan. Eles falam pouco português, apesar de já estarem no terceiro ano de faculdade.
Kang Wonfiok, o Roberto apoiar os jornalistas do Brasil.
Nem que seja para cair no samba, ou o que ele acha que é. “Bate forte o tambor, eu quero tic-tic-tac no meu coração”, canta sem a menor inibição.
Ele possui outras preferências musicais, como Joana e Roberto Carlos. Três colegas de classe da Busan University também
vão ajudar no torneio e querer saber mais sobre Sandy & Júnior e Marisa Monte. “Quero morar no Brasil”, afirma Kim Ennkyoung, a Gisela. Kim Ryoung-hee, a Bárbara, achou o português tão exótico quanto um brasileiro acharia o hangeul e foi por isso
que decidiu fazer este curso. “A língua é fácil, muito mais que o inglês.” Lee Kyung-han concorda: “Em três anos de curso aprendi
mais que nos outros seis que estudei inglês.”