Publicada em 29 de maio de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
ULSAN – A maior dificuldade que os estrangeiros enfrentam na Coréia é lidar
com o hangeul, o alfabeto exclusivo dos coreanos. O “a-be-ce” é pouco
freqüente nas lojas, restaurantes e jornais. Até o teclado do computador
pode vir escrito nesse tipo de hieróglifo oriental. Só que por trás dessa
barreira está o sucesso na escolarização de um povo cuja taxa de
analfabetismo é inferior a 1%.
“Mais de 70% das crianças já sabem ler e falar o hangeul entre os 4 e 5 anos
de idade”, explica Han Young-Kyu, professor de coreano da Universidade de
Ulsan. Ou seja, muitas entram na escola já alfabetizadas.
Falado por mais de 70 milhões de pessoas, o hangeul foi inventado em 1446
pelo rei Sejong. A idéia era criar um alfabeto simples que criasse uma
identidade própria para seu povo.
Até por isso, o inglês quase não é falado. Um dos motivos é que não há bons
professores da língua americana. O australiano Willian Hanson, que ainda
busca um ingresso para a estréia do Brasil na Copa, conta que está
completamente perdido com o hangeul e nunca entra numa loja que não possua
algumas palavras em inglês na vitrine. “É perda de tempo”, diz.
Com 10 vogais e 14 consoantes, que podem ser combinadas de várias formas
para formar outras sílabas e palavras, o hangeul difere do japonês. No
Japão, há três alfabetos, o hiragana, o katakana e o kanji, cada qual com
seu conjunto de sílabas. O último é o mais complexo e deriva dos ideogramas
chineses. Um estudante japonês de nível médio além dos dois alfabetos deve
conhecer cerca de 2 mil kanjis. Na Coréia, esse esforço não é necessário.
“Decoreba”, só para aprender alguns ideogramas chineses, que são ensinados
aos alunos desde a 1.ª série de ensino.
Ensino – Seria um erro atribuir só ao hangeul o pequeno número de
analfabetos, grupo formado apenas pelos mais velhos que na época da
dominação japonesa no país foram proibidos de aprender o coreano. As escolas
também fazem a sua parte. A educação é rígida e só agora começa a ganhar
ares mais liberais com a introdução de métodos de ensino ocidentais. “No
passado, o professor mandava em tudo dentro da sala de aula. Hoje em dia são
os alunos que participam do aprendizado”, afirma o diretor da escola pública
Taehwa Lee Sang-Mak.
Um aluno de uma escola pública usa uniforme, come merenda e assiste às aulas
de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 16 horas, e sábado, das 8h30 até o
meio-dia. Isso a um custo de cerca de R$ 7.500 por ano para os cofres do
governo. A “tia” coreana é uma mulher jovem, com diploma superior e com
salário mensal de quase R$ 3.500.
Segundo o diretor Lee, as diferenças no ensino entre escolas públicas e
privadas são pequenas e em ambos os casos há ajuda financeira do governo
coreano. As primeiras escolas particulares foram criadas na época em que a
Coréia era colônia do Japão (1910-45). Só depois da independência as
públicas começaram a se expandir pelo país. Em Ulsan, hoje dos 42 ginásios,
apenas 5 são privados.