Publicada em 5 de junho de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
ULSAN – Com exceção das características físicas, o jovem coreano parece ser
igual ao brasileiro, americano ou europeu de classe média. Veste roupas de
grife, usa celular e faz questão de estar atualizado com o mundo pop que o
cerca. Um olhar mais atento, contudo, verá diferenças que vão desde o
sapato, quatro ou cinco números maiores do que o pé, até a timidez, marca
registrada entre os orientais.
O jovem na Coréia gosta de passear, mas sai bem menos do que gostaria.
Beijos, só no escurinho e longe do olhar de estranhos. Nos passeios, costuma
voltar cedo, se a família pedir. “Gostaria de sair para dançar, mas meus
pais não deixam”, admite Hye Mi-Jang, de 21 anos. Ela tem namorado, mas não
passa muito tempo com ele. Além da faculdade, estuda de 3 a 4 horas por dia
em casa e gosta de se divertir com as amigas nas lojas de jogos eletrônicos.
Para saber há quantos dias namora, a jovem Park Kwang-Mi recorre ao celular
pendurado no pescoço: “262 dias.” O aparelho a ajuda a lembrar do tempo de
namoro, assim como a data de aniversário do namorado, Lee Yong-Ho, de 25
anos.
Para responder quantos beijos o casal já trocou, a jovem de 22 anos responde
direto: “O primeiro foi só depois de um mês. Agora, devem passar dos 100.”
Em público, muito raramente. “É uma forma de respeito aos mais velhos.” Nos
dias de semana, almoçam juntos e, quando saem, nunca voltam depois das
22h00. Cinema, só nos fins de semana.
Virgindade é tabu. Entre as mulheres, é obrigação preservá-la para o
primeiro marido. “Não sei exatamente o que é sexo. Em nossa idade não
pensamos nisso. Acho que antes do casamento não é certo”, explica Mi-Jang.
Os homens podem experimentar antes e recorrem a prostitutas, mulheres
casadas ou viúvas.
Kong Shin-Hoon, de 25 anos, estuda engenharia automotiva na Ulsan University
e se considera um jovem com educação liberal. Sexo, para ele, significa,
sobretudo, navegar na Internet. Ele gasta até US$ 150 por mês para ver
páginas proibidas para menores de 18 anos. “Não gostaria de ir a cinemas com
filmes para adultos. Teria vergonha se me vissem entrando em um.” Diz que já
não é mais virgem.
Kim Kil-Sung e Lee Dong-Wook, ambos de 25 anos, agem de forma estranha para
os olhos ocidentais. Mas, entre eles, é absolutamente normal. Os dois andam
de mãos dadas e até abraçados, costume que todos adquirem quando pequenos e
só começam a perder conforme avançam na juventude. Um nítido sinal de
carinho entre pessoas queridas. “Denota respeito e amizade”, diz Lee.
Kim é fã de hip-hop e grafites. Gosta de vestir tênis e roupas de grifes
americanas, aprecia filmes de Hollywood – na Coréia, a indústria
cinematográfica européia tem pouco espaço. “Gosto da cultura americana, mas
odeio o governo dos Estados Unidos”, diz.
Essa é uma contradição que merece ser investigada. “O antiamericanismo é um
sentimento generalizado entre eles. O engraçado é que não gostam de serem
ocidentais, mas estão cada vez mais se espelhando neles”, observa o
professor de língua inglesa Mark Brown, canandense que vive há cinco anos na
Coréia. Para ele, isso ocorre porque a maioria dos estudantes respeita muito
os pais, mas, ao mesmo tempo, quer sentir um pouco mais o gostinho de
liberdade.
Para Kevin Grignon, de 32 anos, colega do professor Brown, um exemplo
curioso mostra como os jovens orientais estão em busca de uma nova
identidade e vivem em choque com a própria. Há alguns anos, surgiu no país a
moda dos sapatos largos, que perdura até hoje. Joo Joon-Sik, de 20 anos,
calça número 37, mas comprou um sapato 41. “Me sinto melhor. Se usar o
número certo, fica apertado”, desconversa.