Japoneses se orgulham por trabalhar a vida inteira na mesma empresa

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Publicada em 26 de junho de 2002
O Estado de S. Paulo

EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
TÓQUIO – Massa Kataoka dedicou 20 dos seus 42 anos à empresa em que
trabalha, uma companhia japonesa de exportação. Sua jornada diária dura mais
de 10 horas, mas ele jamais reclama quando tem de fazer hora extra. “É o meu
primeiro emprego e quero que seja o último também”, afirma. Kataoka sabe que
seu filho de 15 anos não pensa como ele, um típico “salaryman” japonês,
porque os mais jovens repudiam esse tipo de devoção. “Eles estão certos, mas
ainda assim amo meu trabalho”, diz.
Prestigiado nos anos 80, ridicularizado nos 90, o homem voltado para o
trabalho no Japão entra no século 21 diante de uma nova realidade. A
estabilidade no emprego ainda é regra, mas o fantasma da demissão já
assusta. A taxa de desemprego supera a faixa dos 5% e pode piorar nos
próximos anos.
Para muitos japoneses, nada é mais admirável do que passar a vida numa só
companhia. O “salaryman” Fujino Masakatsu, de 59 anos e 15 na mesma empresa,
trabalha 9 horas por dia, mas para ele é como se fossem 24 horas. “A
atmosfera de trabalho no Japão implica muita competição nos escritórios”,
explica. Empregado de uma companhia de importação e exportação, torce para
que seus dois filhos não acompanhem o destino do pai e escolham um tipo de
emprego menos rígido.
Como vários trabalhadores de sua geração, Masakatsu prolonga o expediente
para sair com os amigos do escritório. Faz isso uma três vezes por semana. É
um hábito no Japão se socializar com os colegas de ofício. “Não somos
viciados em trabalho, apenas temos de aceitar algumas regras.”
Não é difícil reconhecer um “salaryman” no Japão. Eles estão,
invariavelmente, vestidos de terno e gravata, calçam sapatos escuros e têm
sempre um cartão de visita disponível, calculadora na mala, celular e
cartões de crédito na carteira.
E uma “salarywoman”? Na verdade, as mulheres nas mesmas condições são
conhecidas como “office ladies”. Shuko Eguchi, de 26 anos, é uma delas, mas
não sabe por quanto tempo. “Não quero trabalhar tanto na minha vida. Meu
sonho é casar, ter filhos e mudar para um emprego mais leve.” Assistente da
gerência de um banco, Shuko condena o modo de trabalho japonês, porque vê
inúmeras imperfeições. “Não é costume demitir pessoas no Japão. Por isso, é
muito comum encontrar pessoas num mesmo departamento trabalhando e outras,
não.” Com superior completo, ela trabalha mais de 11 horas por dia e se
sente mal quando vai embora antes dos outros.
Há dois anos, a televisão japonesa exibiu o seriado “Salaryman Kitaro”, um
programa de crítica à figura desse trabalhador obcecado no país. Tornou-se
um sucesso. “No fundo, gostaria de viver como ele”, confidencia Kataoka.

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