Publicada em 14 de julho de 2002
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
A classe média ocupa papel de destaque na agenda social do presidenciável do
PPS, Ciro Gomes. Ele inclui em seu programa a necessidade de melhorar as
condições do brasileiro com nível médio de renda. É uma estratégia com
lógica coerente. Novamente inseridas no mercado consumidor, essas pessoas
tendem a reclamar e brigar por seus direitos, criando um ciclo na economia
que incorporará, conseqüentemente, os mais pobres.
O caso da saúde serve como exemplo. Ciro defende o retorno à idéia original
do Sistema Único de Saúde (SUS), cujos recursos são cada vez mais desviados
para provedores privados. Se a rede pública voltar a reter as verbas, a
classe média pode dispensar planos de saúde particulares, argumenta.
Incorporados ao sistema, eles exigirão melhor atendimento. E isso
beneficiaria os pobres, que só podem recorrer a esse tipo de assistência.
Na educação, o mesmo raciocínio: atrair alunos de classe média, diz,
significa ter de melhorar a escola pública. Até na questão agrária,
nacionalmente conhecida como a luta dos marginalizados, Ciro faz questão de
tratá-los de forma diferente. Quer transformar o proletariado de lavradores
sem-terra numa classe média agrária, segundo seu programa de governo.
Ao incluir a classe média, Ciro quer tornar as ações sociais sensíveis à
agenda política. Daí a repetida frase de que há dinheiro para adotar esses
programas no País. De onde viriam esses recursos? De rubricas como passagens
aéreas de autoridades e gastos com publicidade. “Como é que faz: as
autoridades não vão mais viajar? Então pergunto: como é que faz a população
que vive debaixo dos viadutos”, indaga o candidato. “O Brasil tem 33 milhões
de pessoas que passam fome. Precisamos nos comprometer com elas.”
Ciro defende retomar o emprego pelos setores de construção civil, turismo e
agricultura, os mais baratos e de efeito mais imediato na economia. Para pôr
em prática o projeto de construir 300 mil moradias populares por ano, ele
prevê gastos de R$ 3 bilhões. Cada unidade habitacional teria 45 metros
quadrados e viria com luz elétrica e água. Tal projeto, prevê, implicaria
mais investimentos na área de saneamento básico. “Dá para fazer no primeiro
dia”, garante.
Trabalhador – Sua preocupação, contudo, é que com o ritmo atual de
crescimento não se criam empregos suficientes a médio e longo prazos. “A
economia brasileira é a de maior ganho de produtividade do planeta, mas na
prática estamos trocando gente por máquina”, critica. Para enfrentar a
situação, ele propõe requalificar trabalhadores e jovens. Uma das idéias é
incentivar programas como os oferecidos pelo Centro de Solidariedade da
Força Sindical.
Só com a reativação da economia, Ciro acredita que possa manter o salário
mínimo em US$ 100. Na sua opinião, esse nível “faz mais bem do que mal ao
Brasil”. Se eleito, ele quer unificar os programas assistencialistas num
único, como o de renda mínima.