Publicada em 1 de junho de 2004
O Estado de S. Paulo
EDUARDO NUNOMURA
Enviado especial
PORTO PRÍNCIPE – O Brasil assume hoje o comando da Missão de Estabilização
da Organização das Nações Unidas no Haiti (Minustah). É um feito considerado
histórico pelas Forças Armadas brasileiras, já que nunca o País liderou uma
força de paz da ONU. À frente da Minustah estará o general Augusto Heleno
Ribeiro Pereira, que chegou ontem à capital haitiana com uma complicada
tarefa política para destrinchar nas próximas semanas: negociar com outros
países o envio de tropas para compor o grupo.
Além do Brasil, que terá o maior contingente, só Chile, Argentina, Canadá e
Uruguai confirmaram que mandarão tropas para a missão. Outros, como
Paraguai, Bolívia, Peru e Nepal, deram sinais positivos, mas ainda não
indicaram quantos soldados enviarão. “Algumas dessas previsões devem se
confirmar, outras não por inteiro. Enfim, estamos nessa fase de reunir
meios”, contou o general. Os países demoram a definir sua participação na
missão de paz porque dependem de decisões de seus parlamentares. A Minustah
vai substituir a Força Multilateral Provisória, que estava a cargo de
militares americanos, franceses, canadenses e chilenos.
Segurança – A atual missão assumiu o controle da segurança do Haiti logo
depois da deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide, no fim de
fevereiro, quando o país ficou à beira de uma guerra civil. Muitos haitianos
odeiam a presença de americanos no país. Há uma estimativa de que entre 25
mil e 35 mil pessoas possuam armas ilegais. Nas favelas e vilas há grande
número de desempregados vendendo mercadorias ao ar livre. A orientação dos
militares americanos é evitar entrar nesses locais sem ser convidado. A
polícia local não patrulha as ruas, apenas atende a ocorrências.
Transição – Canadá e Chile ainda vão manter suas tropas no país, ao menos
por um tempo. “Há uma intenção de que a ação (da força de paz) comece por
volta do dia 20 de junho”, afirmou o general Pereira. Nesse período de
transição deve chegar o restante da tropa brasileira, que terá mais de 1.200
soldados. A ONU calculava que a Minustah contaria com cerca de 6.700 homens.
Bem-humorado e ansioso por assumir suas funções no Haiti, o general Pereira
será o comandante político da Minustah. “Não sei se vou jogar com trava alta
ou baixa, como é a grama. Estou chegando para o treino”, brincou, usando
jargão futebolístico. Na prática, o comandante da força de paz sabe que
encontrará um país desestruturado e um histórico ruim de missões
fracassadas. Algumas tiveram curta duração, enquanto outras deixaram de
respeitar certos valores do povo haitiano, impedindo que houvesse empatia da
população com as forças interventoras.